terça-feira, 25 de março de 2025

Cobertura de Show: Garbage + L7 – 22/03/2025 – Terra/SP

No último sábado, 22 de março, o Terra SP recebeu uma noite histórica para os amantes do rock alternativo. O evento reuniu três gerações de mulheres poderosas no palco: a banda brasileira The Mönic, L7 e Garbage. Com setlists recheados de hinos, performances energéticas e interação intensa com o público, a noite foi um verdadeiro presente para os fãs.

Vale lembrar que tanto o Garbage quanto o L7 passaram recentemente pelo Brasil. O Garbage abriu a turnê do Foo Fighters em setembro de 2023, enquanto o L7 fez uma série de shows solo pelo país em outubro do mesmo ano. Dessa vez, ambas as bandas retornaram para uma apresentação exclusiva, proporcionando uma experiência mais intimista e voltada diretamente para seus fãs.


The Mönic: A potência nacional abrindo os trabalhos

Pontualmente às 19h30, The Mönic subiu ao palco para dar início à noite. Como é comum para bandas de abertura, o público ainda estava tímido e o som parecia estar sendo ajustado, mas isso não impediu a banda de conquistar os presentes. A cada música, Dani Buarque (vocal e guitarra), Alessandra Duque (vocal e guitarra), Joan Bedin (baixo e vocais) e Daniely Simões (bateria) foram trazendo o público para perto, culminando em uma recepção calorosa. No encerramento do set, Dani foi até a galera e abriu uma rodinha na pista premium, garantindo uma resposta entusiasmada e aplausos merecidos. Uma estreia memorável para a banda no palco do Terra SP.



L7: Punk, energia e irreverência

A casa começou a encher de verdade por volta das 20h10, e às 20h32, o L7 tomou o palco. Antes mesmo de tocar um acorde, já foram ovacionadas ao exibir seu logo no telão. A formação atual conta com Donita Sparks (vocal e guitarra), Suzi Gardner (guitarra e vocal), Jennifer Finch (baixo e vocal) e Dee Plakas (bateria).

A baixista Jennifer Finch, enérgica e carismática, não parou um segundo, pulando de um lado para o outro e interagindo com o público. A banda trouxe um setlist equilibrado entre clássicos e músicas mais recentes, sempre mantendo a vibe punk que as consagrou. Durante a performance, perguntaram ao público quem estava vendo o Garbage pela primeira vez, quem via o L7 e quem assistia ambas as bandas. Jennifer brincou, chamando os novatos de "sacrifícios virgens".

A banda abriu o show com “The Beauty Process”, já indicando que a noite seria inesquecível. Logo na segunda música, “Scrap”, cantada por Suzi Gardner, ficou evidente que o público estava totalmente envolvido. Seguiram com os clássicos “Monster”, "Fuel My Fire", "One More Thing" e "Stadium West", que foram recebidos com entusiasmo.

“Andres” também foi super bem recebida e a banda brincou dizendo que o Andres em questão era um homem brasileiro. Ao saudar o público, Donita ouviu um fã gritar “nós viemos só para ver vocês” e respondeu: “Vocês vieram nos ver? Nós viemos tocar rock and roll para vocês!”

“Must Have More” e “Bad Things” deram sequência ao show, e quando a metade do set foi alcançada, a casa já estava lotada. Emendando hit após hit, “Stuck Here Again”,

“Everglade” e “Dispatch From Mar-a-lago” fizeram o público dançar. “Shove” também fez com que grande parte do público levantasse seus celulares para filmar, sendo uma das músicas com mais interação. Mas foi em "Pretend We're Dead" que o público explodiu, cantando e filmando cada segundo. A cantora Luísa Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy, banda brasileira ícone alternativo dos anos 2000, subiu ao palco na metade da música para cantar junto às suas ídolas. Em "Shitlist", outra das mais aguardadas, todos entoaram os versos em coro. O show foi encerrado com "Fast and Frightening", dedicada "a todas as mulheres".

Essa nova passagem reafirmou o carinho do público brasileiro pela banda e sua relevância no cenário do rock alternativo.




L7 – setlist:

The Beauty Process

Scrap

Monster

Fuel My Fire

One More Thing

Stadium West

Andres

Must Have More

Bad Things

Stuck Here Again

Everglade

Dispatch From Mar-a-Lago

Shove

Pretend We're Dead

Shitlist

Fast and Frightening


Garbage: Elegância e potência sonora

O aguardado show do Garbage estava previsto para as 22h e começou com poucos minutos de atraso, ao som do tema de Twin Peaks. Quando Shirley Manson surgiu no palco, deslumbrante em um vestido verde, a recepção foi ensurdecedora. A formação atual da banda inclui Shirley Manson (vocal), Duke Erikson (guitarra e teclado), Steve Marker (guitarra), Butch Vig (bateria) e Ginger Pooley (baixo).

A abertura com "Queer" já mostrou um público totalmente engajado, que seguiu cantando alto assim como as músicas que deram sequência, "Fix Me Now" e "Empty". Com um palco minimalista, sem grandes cenários ou telões, a banda apostou em um show focado na música e na presença magnética de Shirley. Em um dos momentos mais marcantes da noite, ela exaltou o L7 como "as últimas do seu tipo, autênticas e revolucionárias". 

“The Man Who Rule the World” talvez seja uma das músicas que destoa das demais, um pouco mais lenta e notei que bastante gente não a conhecia. Mas em seguida “Wicked Ways” que teve até um snippet de “Personal Jesus” do Depeche Mode, voltou a empolgar o público. Um dos momentos mais bonitos do set aconteceu em “The Trick is to Keep Breathing” com uma performance de Shirley que tirou o fôlego (piada não intencional com o título da música).

Em momentos pontuais em algumas músicas haviam animações no telão, como em “Wolves”, com jogo de imagens abstratas em preto e branco que ajudaram a climatizar o ambiente. Em seguida, apresentou sua música favorita, “Cup of Coffee” e lembrou que na ocasião de lançamento ocorreu a tragédia do 11 de setembro nos Estados Unidos e que, o álbum (terceiro até então) foi jogado para escanteio. Também aproveitou para apresentar a banda.

O setlist percorreu diversas fases da carreira da banda, com destaque para "Vow", "Special" e "Stupid Girl", que fizeram o chão tremer – literalmente – no camarote. "Only Happy When It Rains" foi um dos ápices da noite, com o público gritando cada palavra e uma introdução lindíssima. “Milk”, também um pouco mais lenta, parecia ser o que o público precisava naquele momento, talvez um descanso para o final épico da noite.

Como a banda é especialista em hits e o seu público na noite era extremamente engajado, “#1 Crush” e “I Think I’m Paranoid” também foram cantadas em coro pelos presentes. 

Mais para o final, "Cherry Lips (Go Baby Go!)" foi dedicada à comunidade trans, reforçando a mensagem inclusiva e progressista do Garbage. “Push It” finalizou a primeira parte da apresentação.

O encore veio com "When I Grow Up", fechando o show com chave de ouro.

Mais de duas décadas depois de seu surgimento, o Garbage segue entregando performances impecáveis e emocionantes, consolidando-se como uma das bandas mais queridas do rock alternativo.


Uma noite memorável

Com um lineup desses, era impossível sair decepcionado. The Mönic mostrou a força dorock nacional, o L7 reafirmou sua relevância com um show enérgico e o Garbage entregou um espetáculo emocionante e coeso. Uma noite para ficar na memória dos fãs que estiveram no Terra SP, celebrando o poder feminino no rock.







Edição/Revisão: Gabriel Arruda

Realização: Liberation MC

Press: Tedesco Comunicação & Mídia


Garbage – setlist:

Laura Palmer's Theme (som mecânico - Angelo Badalamenti)

Queer

Fix Me Now

Empty

The Men Who Rule the World

Wicked Ways (com snippets de "Personal Jesus" do Depeche Mode)

The Trick Is to Keep Breathing

Wolves

Cup of Coffee

Vow

Special

Stupid Girl

Only Happy When It Rains

Milk

#1 Crush

I Think I'm Paranoid

Cherry Lips (Go Baby Go!) (dedicada à comunidade trans)

Push it

Encore:

When I Grow Up

Cobertura de Show: Atreyu – 20/03/2025 – Carioca Club/SP

 Atreyu em São Paulo: Um show que valeu 25 anos de espera (com suor e donuts!)

Se você estava no Carioca Club na última quinta-feira, 20 de março, sabe que o Atreyu não veio ao Brasil apenas para tocar — veio para fazer história. E, cá entre nós, eles fizeram isso com direito a suor escorrendo “rego abaixo”, donuts voando pelo ar, e uma energia que deixou claro: o metalcore ainda tem muito fôlego (e fãs apaixonados).

A noite começou com um “pré-show” inusitado. Enquanto o público ainda chegava, Brandon Saller, o vocalista que parece ter sido feito para liderar multidões, subiu ao palco e anunciou que, como não havia banda de abertura, a equipe técnica da banda faria um “esquenta” com alguns covers. E não foram covers qualquer: Pantera e Metallica deram o tom, com um fã sortudo cantando “Sad But True” no palco. Para fechar com chave de ouro, Brandon mandou um “I Believe In A Thing Called Love”, do The Darkness, porque, claro, por que não?

Às 21h, com o Carioca Club ainda longe de lotar (culpa da quinta-feira e da agenda cheia de shows em março), o Atreyu entrou no palco ao som de “Sandstorm”, do Darude. Sim, aquela música que todo mundo já ouviu em algum meme ou festa aleatória. E, de repente, o clima de “Summer Eletrohits” deu lugar a um tsunami de metalcore com “Drowning”. A galera já estava cantando no topo dos pulmões, e a energia só aumentou com “Becoming the Bull”, um clássico que fez todo mundo reviver os anos 2000, quando a gente ainda usava MySpace e achava que emo hair era o ápice da moda.

Brandon, que parece ter sido abençoado por algum deus do rock com carisma infinito, não perdeu tempo. Em “The Time Is Now”, ele desceu para a pista, cantou no meio da galera, deu uma passadinha no bar para tomar um drink (sim, isso aconteceu) e ainda voltou para o palco como se nada tivesse acontecido. O cara é um show à parte.

Um dos momentos mais nostálgicos da noite foi quando Brandon reassumiu seu antigo posto na bateria para “Bleeding Mascara”, enquanto o baixista Marc “Porter” assumiu os vocais. A troca de papéis foi tão natural que deu até vontade de pedir bis só para ver mais dessa dinâmica. E falando em nostalgia, o cover de “Like a Stone”, do Audioslave, foi um dos pontos altos da noite. Simples, emocionante e com um ar de despedida, a música fez todo mundo cantar junto, mesmo que com um nó na garganta.

Mas não pense que o show foi só emoção e lágrimas (de suor, claro). O Atreyu mostrou que sabe brincar com o público. Brandon tentou aprender a falar “filha da p***” em português (e quase conseguiu), Travis Miguel mostrou que seu português está afiado (ou pelo menos suficiente para elogiar a galera), e ainda teve parabéns para uma fã aniversariante, que subiu no palco para tirar foto com a banda. Ah, e não podemos esquecer dos donuts que foram arremessados para a plateia — porque, aparentemente, metalcore e donuts são uma combinação perfeita.

O setlist foi uma viagem no tempo, com clássicos como “Ex’s and Oh’s”, “The Crimson” (minha favorita) e “Lip Gloss and Black”, que fechou o encore com chave de ouro. A banda prometeu que não vai demorar 25 anos para voltar ao Brasil, e, depois de um show desses, a gente só pode torcer para que eles cumpram a promessa.

No final das contas, o Atreyu não só fez sua estreia no Brasil, mas também deixou claro por que ainda é uma das bandas mais relevantes do metalcore, que apresentou um dos shows mais divertidos do ano. Com energia, carisma e um setlist que misturou nostalgia e modernidade, eles provaram que, mesmo depois de 25 anos de carreira, ainda sabem como fazer um show inesquecível. E, cá entre nós, a gente já está contando os dias para a volta deles. Atreyu, por favor, não nos façam esperar tanto dessa vez! 



Fotos: Gustavo Diakov (Sonoridade Underground)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda


Realização: Overload



Atreyu – setlist:

Drowning

Becoming the Bull

Right Side of the Bed

Save Us

The Time is Now

When Two Are One

(i)

Bleeding Mascara

Gone

Ex’s and Oh’s

Like a Stone (Audioslave cover)

Battles Drums

Falling Down

The Crimson

Blow

Encore

Lip Gloss and Black

sábado, 22 de março de 2025

Cobertura de Show: Gutalax – 13/03/2025 – Hangar 110/SP

Depois de quase um ano esperando, os checos do Gutalax finalmente pisaram em solo brasileiro, trazendo seu goregrind repleto de humor ácido e um toque de podridão. O Hangar 110 serviu como cenário para essa experiência de extremo bom gosto, contando com as bandas de abertura Red N’ Hell, representando o Death Metal old school de São Paulo, e os veteranos do underground brasileiro, Imminent Attack, que fizeram seu retorno com um rápido set de crossover após cinco anos de hiato.

Os shows começaram pontualmente às 19h30, com a Red N’ Hell esbanjando seu Death Metal cavernoso, que manteve os espectadores animados, ainda que com algumas rodas de mosh-pit. O som da banda revelava claramente as influências de grupos clássicos como Pungent Stench, Sinister e Asphyx.

A seguir, o Imminent Attack subiu ao palco com um set curto, porém muito enérgico, e o público, já aquecido, comprovou que o corcovar continua bem vivo tanto no underground quanto fora dele no Brasil.

Chegou o momento dos verdadeiros protagonistas da festa. Desde 2010, o Gutalax vem se destacando no cenário goregrind. Embora este gênero aborde temas relacionados ao gore, mutilações e violência, a banda preferiu explorar um viés mais escatológico. Suas canções costumam trazer humor com piadas sobre fezes e referências à cultura pop, como na música "Robocock", que faz uma clara alusão ao clássico filme de ação dos anos 80, RoboCop. Uma curiosidade interessante é que Gutalax também é o nome de um laxante. Para apreciar o show, os fãs se vestiram à caráter com roupas de laboratório, bexigas, vários rolos de papel higiênico e até frangos de borracha, lançados ao acaso quando a banda subiu ao palco do Hangar 110, deixando o público em frenesi.

Com a estreia do icônico filme Ghostbusters, o Gutalax subiu ao palco do Hangar 110 para apresentar sua primeira canção, “Assmeralda”. A partir daí, o caos se instaurou: uma verdadeira hecatombe de objetos voadores, rolos de papel higiênico e pessoas invadindo o palco, enquanto o público se tornava a verdadeira atração da noite, surpreendendo a banda com tanta energia descontrolada.

A confusão tomou conta de toda a apresentação do Gutalax, e diversos convidados especiais se juntaram a eles no palco, como Thiago Monstrinho (da banda Worst) em "Shitbusters", e Fernanda Mattielo (uma fã sortuda que teve a chance de cantar ao vivo com eles) na citada"Robocock", além de uma infinidade de bonecos excêntricos.

Ao final do show, o Gutalax expressou sua gratidão pelo carinho dos fãs e a dedicação de todos que estavam presentes. O evento esgotou os ingressos meses antes da data marcada. Agora, resta saber se o Brasil está preparado para o próximo ataque flatulento dos nossos amigos inusitados.



Fotos: Lara Zugaib (Lado Direito do Palco)

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 




Red N' Hell – setlist: 

UFO

Colony Death

A Corpse Putrified

Slaughter

Killing Again

Reborn to Kill


Imminent Attack – setlist: 

Secret of Skin

Rush of Violence

Couch Potato

Saint Madness

Jesus S.A.

Palhaço da Mídia

Massacre

Nova Constituição

Vidas

Abductors

Splact

Defyning Gods

Devils

Elliot


Gutalax – setlist: 

Asswolf

Assmeralda

Nosím místo ponožky kousek svojí předkožky

Shit of It All

Buttman

Šoustání prdele za slunné neděle

Robocock

Kocourek Mourek podráždil si šourek

Diarrhero

Vaginapocalypse

Polykání semena z postaršího jelena

Fart and Furious

Total Rectal

Vykouření dařbujána vietnamského veterána

Shitbusters

Strejda Donald

Nungara: Marcando uma Nova Fase com "North Star"

 

Baseada em Berlin, o trio brasileiro conhecido como NUNGARA lançou recentemente o single North Star em formato de videoclipe, a canção de cunho mais progressista até então e que encerra o EP Reflections in Stillness, lançado em 2023.

A NUNGARA é filha de Noelle dos Anjos, brasileira nascida em João Pessoa, capital da Paraíba, que se mudou para a Alemanha há 10 anos atrás. Completando o trio estão os também brasileiros Murilo Frade (bateria) e Artur Cipriani (baixo).

A líder paraibana é mais conhecida pela sua passagem pela COBRA SPELL (a qual realizou uma turnê na América Latina no ano passado com 9 shows no Brasil), e se mudou para a capital alemã com o intuito de evoluir como musicista. A culminação de tal desejo veio com o nascimento da NUNGARA, no ano de 2019.

Enquanto o mundo inteiro sucumbia diante da pandemia em 2020, Sumauma surgia como o primeiro single, chamando a atenção pelas queimadas na Floresta Amazônica. Eventualmente, o próximo single viria em 2023, batizado de "Moon Swallower", precedendo a chegada no mesmo ano do EP Reflection in Stillness, contendo 4 canções.

NUNGARA significa "igual" ou "semelhante" na língua Tupi-Guarani. A sua mistura de vocais limpos e guturais, além de riffs groovy e elementos do Progressivo, fazem com que a sua identidade e a sua personalidade sejam definidas na cena desde a sua concepção.

Em sua jornada reflexiva sobre a jornada da vida, como a de um viajante solitário na calada da noite, guiado pela Estrela do Norte, a NUNGARA o convida a assistir o clipe, dirigido pela Kumar Productions. Confira abaixo.




Texto: Bruno França
Edição/revisão: Caco Garcia 
Fotos: Andreas Gebhardt
Assessoria: Som do Darma 

Nungara Instagram 

quarta-feira, 19 de março de 2025

Cobertura de Show: Leprous – 13/03/2025 – Vip Station/SP

Não é novidade que 2025 começou sendo um prato cheio pros fãs de plantão. Inicialmente com uma predominância forte de metal extremo, hardcore e punk, o mês de março chegou pra mudar um pouco essa cena, e a gente deve ver essa balança se equilibrando mais.

Um bom exemplo disso é o metal progressivo, que somente este ano contará com nomes como Tool, Opeth, Haken e Maestrick. No entanto, a primeira banda desse gênero a desembarcar no verde e amarelo foram os noruegueses do Leprous, que, em turnê pela América Latina, encerraram sua passagem pelo Brasil ontem (13/03), em São Paulo, em promoção ao seu último álbum de estúdio, Melodies of Atonement, lançado em 2024.

Formada no início dos anos 2000 em Notodden, na Noruega, a banda sempre mostrou sua forte inclinação ao progressivo, indo na contramão dos grandes nomes da cena do país para a época. Ganhando maior visibilidade após serem banda de apoio de Ihsahn (ex-Emperor), o Leprous foi consistente em sua evolução ao longo dos anos, com oito álbuns de estúdio lançados e uma sonoridade que passou a incorporar também elementos mais atmosféricos, alternativos e até eletrônicos.

Realizando o “Come to Brazil” desde 2019 com seu álbum Pitfalls, a terceira passagem do Leprous se deu na VIP Station, em São Paulo, em plena quarta-feira à noite. Porém, com diversos nomes preenchendo as lacunas e horários das casas noturnas essa semana, acaba sendo inevitável se deparar com shows em meio à semana como a única alternativa para uma banda conseguir efetivamente realizar sua passagem pelo país. Ainda assim, pode parecer uma surpresa (ou não) que, já próximos ao horário da abertura das portas da casa, se formava uma considerável fila onde a maior característica em comum entre os presentes era a clara animação para o show.


O início da expiação

Marcada para a subida aos palcos ocorrer uma hora após a abertura, dito e feito: poucos minutos passados das 20h30, a atmosfera se instaurava com o apagar das luzes e o silêncio vindo das músicas do P.A. Aos poucos, entrava o grupo formado por Einar Solberg (vocal/teclados) e Tor Oddmund Suhrke (guitarra), únicos membros fundadores a compor a banda, com Baard Kolstad na bateria, Simen Børven no baixo, Robin Ognedal na guitarra e Harrison White nos teclados.

A atmosfera escura, porém nada silenciosa devido aos mais ávidos fãs que já se colocavam a gritar tamanha animação, pouco a pouco deu lugar às primeiras batidas de “Silently Walking Alone”, estreando a primeira de Melodies of Atonement, com a batida eletrônica extremamente presente que, com muita paixão, chamou a atenção para um dos elementos que com certeza se fez um dos grandes destaques da noite: o envolvente jogo de luzes que agiu de forma extremamente complementar a cada nota e emoção evocada nas palavras de Solberg.

Outro elemento que se fez presente desde o início foi a movimentação de palco extremamente coordenada e ainda assim orgânica, performada pelo sexteto que, de forma tão fluida, se movimentava pelo palco, de lá para cá, subindo nas plataformas da parte de trás, onde ficam a bateria e o teclado, ou nas da frente, ao lado dos microfones, para se projetar para o público. Se na primeira alguns fãs se encontravam mais acanhados, “The Price” entrava na sequência, puxando todos os “AaAah’s” que você possa imaginar em um coro que tomava a VIP Station. Faixa do quarto e aclamado álbum The Congregation, a música trouxe os elementos mais marcantes do prog característico do Leprous, além de já destacar toda a versatilidade de Einar ao assumir também os teclados, conforme as luzes piscantes elevavam ainda mais todo o drama e o peso da música.

“Illuminate” veio a seguir, mantendo as fortes raízes do prog, com toques eletrônicos mais marcantes, aquecendo cada vez mais o público que dançava e cantava ao som do refrão, totalmente cativo pelo carisma da banda como um todo, que, entre acenos, olhadas, sinais e sorrisos, parecia energizada pela conexão com o público. Mas arriscaria dizer que foi com “I Hear the Sirens” que o primeiro grande impacto da noite realmente chegou.

Isso porque, nesta música, a cena foi completamente roubada por Solberg e toda a sua capacidade vocal, indo de sua já bela voz limpa até o mais alto, agudo e dramático momento, no qual a plateia restava apenas ficar ali, parada, observando e totalmente hipnotizada pelo “canto da sereia” — mas que, diferentemente da mitologia, parecia nos afogar nas profundezas de um deleite acústico. Acredito que, independentemente de ser a primeira vez ou não assistindo a uma performance do Leprous, foi naquele momento que a magia fora lançada e a todos nós restava cada vez mais emergir naquela experiência.

Em uma dobradinha do Melodies of Atonement, tivemos na sequência “Like a Sunken Ship”, outra favorita dos fãs do mais recente álbum, que, mesclando as vozes de backing vocals e toda a atmosfera criada pela música, com os “Lá, lá, lá, lá’s” misturados ao refrão, rapidamente entra na mente, até a grande virada da música, com um Solberg agressivo com poderosos drives vocais e o mais forte agudo.


A escolha é de vocês…

A segunda metade do show teve como início uma fala mais longa de Einar para com a audiência, com os devidos agradecimentos pelo suporte e todo o amor pelo Brasil e São Paulo. Brincando com o público a todo momento, o músico questionou sobre o tempo em que o público acompanhava a banda, realmente ouvindo as respostas e interagindo com elas em um descontraído momento que culminou na necessidade de uma decisão: trazendo elementos interativos ao show, a banda deu ao público a possibilidade de escolha entre duas músicas: “Forced Entry”, do álbum de 2011, Bilateral, ou “Passing”, do Tall Poppy Syndrome, o primeiro álbum, de 2009.

Com uma vitória esmagadora por aqueles que gostariam de ouvir algo o mais antigo possível, iniciou-se a música que nos conduziu novamente para uma fase mais prog, com escalas, quebras e harmonias mais complexas e, é claro, um gutural visceral de Solberg. Com todo o arranjo agressivo e mais pesado da música, somado aos diferentes ranges vocais de Einar ao longo da faixa, a grande estrela do drama nesta, mais uma vez, foi a iluminação, que se apagava em completo escuro até a luz quente iluminar novamente a cada grito do vocalista.

Depois de todo o fôlego roubado de nossos pulmões e transferido para Einar, um lindo solo de teclado deu lugar ao início de “Distant Bells”, do álbum Pitfalls, de 2019. Uma música que serviu de perfeito contraponto e recuperação para todos os presentes, onde, àquela altura, o calor principalmente era notável aos noruegueses, que pingavam de suor pelo palco. Outros momentos marcantes deste segundo bloco da apresentação se deram após “Nighttime Disguise”, com “Unfree My Soul”, onde o peso da música se dividiu entre os integrantes, à medida que as dedilhadas iniciais e constantes da guitarra se contrastavam com as intensas batidas na percussão; somados a Baard, White, o tecladista, se unia ao mesmo para literalmente sentar a mão, deixando clara a intensidade da música, ainda somada à harmonia vocal de Einar.

“Below”, outro hit de sucesso da banda, não deixou a desejar, com o público cantando desde suas primeiras frases ao envolvimento magnético e atmosférico dos solos. Mas foi em “Faceless” que tivemos outro — e talvez o maior — ponto alto da noite. Isso porque, antes do início da música, Einar dialogou mais uma vez por um tempo com o público, comentando brevemente sobre o processo de criação e o desafio da gravação da música, que tem como característica ter sido gravada utilizando quase 200 vozes de fãs que participaram de um processo seletivo para terem suas vozes eternizadas.


Até aí tudo bem… Mas como isso se traduziu para a apresentação ao vivo? 

Simplesmente com a aparição de mais de 10 fãs da plateia, selecionados, que subiram ao palco para vivenciar este momento inesquecível junto à banda, no emocionante coro de “Never go alone / Never the unknown”. Foi extremamente emocionante observar tanto o carinho e respeito dos artistas para com o público em geral, mas também a felicidade no rosto dos escolhidos, que ali representavam também os fãs com muito amor e dedicação, de forma ainda a incrivelmente soar tão belamente enquanto um coro, para algo combinado na hora.

De quebra, a banda ganhou ainda uma capivara de pelúcia, marcando praticamente o reconhecimento e a sinalização de que os noruegueses já podem entrar com o pedido de sua dupla cidadania.


Povo do gelo, com calor nas veias

O terceiro e último bloco do show do Leprous serviu como um giro pela discografia da banda, iniciando com “Castaway Angels”, diretamente do álbum Aphelion, música que viaja em uma veia mais pop-rock e mantém a energia mais tranquila tida em “Faceless”, com foco nos belos falsetes de Einar. Veio então “From the Flame”, talvez uma das músicas mais aguardadas da noite, que já elevou a energia e trouxe toda a intensidade performática do show para o alto novamente.

Com destaque para a dupla Tor e Einar, juntamente a um público em coro, os outros integrantes não ficavam para trás, com Baard mostrando toda a paixão em cada batida e virada, Simen chegando próximo ao limite do palco apenas para se projetar o máximo possível para o público, White em um completo transe conforme se dispunha nos teclados e Robin servindo como base, mas sem perder seu brilho.

Retornando às raízes mais progressivas, “Slave” entregou tudo e mais um pouco, com sua tensão inicial através dos teclados que davam aquele peso no peito e sua crescente ao longo da música através dos riffs e das batidas frenéticas da bateria, culminando nos potentes guturais de Einar que marcaram a música até o seu fim, onde, após uma breve despedida, os músicos se retiraram do palco naquele velho protocolo do “estamos indo, talvez voltemos”, que sabemos que sempre voltam.

E não bastou muito! Aos gritos de “Olê, olê, olê, olê, Leprous, Leprous”, tínhamos um breve retorno com direito a cumprimentos da banda para com o público e um Einar tentando puxar um “Olê, olê, olê, olê”, misturado com algumas brincadeiras; a banda entrava em seu encore com “Atonement”, outro dos grandes hits do último álbum, que serviu ainda perfeitamente para esta parte final, ao comando da voz de Einar, juntamente ao backing vocal do restante da banda que, junto ao público cantando o refrão a plenos pulmões, todo o melódico e a força da música dava energia para os músicos irem de um lado para o outro, batendo cabeça, entregando uma performance totalmente intensa.

Fechando com chaves leprosas de ouro, “The Sky Is Red” foi tocada em sua intensidade junto ao jogo de luzes, mas, infelizmente, não em sua totalidade, servindo como uma sobremesa que te sacia, mas deixa com aquele gostinho de quero mais deste grande épico que em alguns momentos parece até flertar com o sinfônico, em uma das músicas que talvez melhor incorpore tanto os elementos progressivos quanto os mais característicos à fórmula atual da banda.

Algo que, de nem de longe, foi motivo para narizes torcidos, afinal, o público aparentava completa alma lavada ao final desta épica noite, que impressionou do começo ao fim pela experiência sonora e de palco, mas, acima de tudo, mostrou que o Leprous, apesar de vir dos países nórdicos, tem um sangue extremamente quente fluindo em suas veias, tamanha a demonstração das emoções no palco e do carinho com o público que se despediu pela terceira vez do sexteto, mas com certeza já desejando um breve retorno.

Com um setlist marcado pela mescla das fases da banda, a apresentação como um todo se mostrou extremamente impactante e nem um pouco enjoativa, mantendo as características clássicas, mas mostrando também sua evolução através do tempo. Com a clara e esperada predominância de Melodies of Atonement, a passagem do Leprous pelo Brasil foi extremamente envolvente, dinâmica e emocionante.


Texto: Pedro Delgado

Fotos: Gabriel Eustáquio

Edição/Revisão: Gabriel Arruda 


Realização: Estética Torta

Press: Acesso Music


Leprous – setlist: 

Silently Walking Alone

The Price

Illuminate

I Hear the Sirens

Like a Sunken Ship

Passing

Distant Bells

Nighttime Disguise

Unfree My Soul

Below

Faceless

Castaway Angels

From the Flame

Slave

Bis

Atonement

The Sky Is Red

segunda-feira, 17 de março de 2025

Cobertura de Show: The Offspring – 11/03/2025 – Pepsi on Stage/RS

Por: Vinny Vanoni

Fotos: Marcio Dorneles

Meus senhores, senhoras, rapazes e senhoritas, como um fã da banda de punk rock californiano que foi uma das principais responsáveis por colocar o punk rock novamente no “mainstream” da indústria musical, vós lhes digo, que show ESPETACULAR que ocorreu no Pepsi on Stage em Porto Alegre nesta terça feira, 11 de março de 2025.

A começar com a banda de abertura, The Warning, um power trio mexicano formado pelas irmãs Villareal Vélez, Daniela, 25, (Guitarra, vocal principal e de apoio), Paulina, 23, (Bateria, vocais principais e de apoio) e Alejandra, 20, (Baixo, vocais de apoio e ocasionalmente principais), formada em Monterrey, México em 2013, época em que as irmãs tinham de 7 a 12 anos de idade, e que pode ser considerada um dos expoentes do rock alternativo, hard rock e heavy metal da nova geração e uma sonoridade que lembra muito um também o power trio das antigas, RAGE!.

Com vocais potentes e drives fenomenais, riffs pesados e bem trabalhados, um baixo pegado ao extremo e uma bateria que estava ecoando no peito, literalmente. A cada pancada de Paulina na caixa, tons e bumbo, o peito ressoava dando a impressão de estarmos tendo um ataque cardíaco e que nossos corações iriam sair para fora do peito, igual ao filme Alien. Juntando toda esta qualidade fantástica a uma entrada fenomenal, as gurias do The Warning chegaram colocando a casa abaixo com sua sonoridade que fez todo mundo bater cabeça e cantar junto!

Uma curiosidade sobre as irmãs Villareal Vélez é que durante sua infância e adolescência gostavam de jogar o jogo Rock Band e segundo elas, o utilizavam também para praticar seus instrumentos de interesse. A banda The Warning começou a receber reconhecimento a nível mundial após colocarem um vídeo cover da música Enter Sandman do Metallica que viralizou e fez com que o próprio Kirk Hammet tecesse elogios à banda e principalmente a Paulina, comentando “a baterista chuta traseiros ao máximo!”.

Lembram que comentei das gurias serem fãs e terem utilizado a franquia de jogos Rock Band para praticarem? Pois é, os desenvolvedores do quarto jogo, Rock Band 4, decidiram retornar o carinho e empenho do The Warning incluindo duas de suas músicas autorais no jogo. Além de uma nova versão da Enter Sandman tocada por elas, dessa vez com a vocalista Alessia Cara nos vocais, ter sido colocada tanto no jogo Marvel’s Midnight Suns e no seriado The Imperfect’s, após ter sido gravada no álbum tributo ao Metallica, The Metallica Blacklist.

“Mas vem cá, por qual motivo o The Offspring escolheu elas para abrir o show em Porto Alegre?” vocês podem perguntar, e eu irei responder. Porque a banda, desde sua criação em 2013, possuí quatro álbuns lançados desde 2017 até agora, já tocou em diversos festivais reconhecidos mundialmente como Wacken Open Air, Summerfest, Rock al Parque (Maior festival de rock da América Latina) além de já terem sido a banda de abertura para bandas lendárias como The Killers, Foo Fighters, Sammy Hagar, Stone Temple Pilots, Muse e duas vezes para o Gun’s’n’Roses, a segunda sendo na turnê de retorno da banda, We’re F’N’Back! Tour.

Se não bastasse, foram banda de apoio para o Halestorm, The Pretty Reckless, Three Days Grace, tocaram no MTV Europe Music Awards, 25th annual Latin GRAMMY Awards e MTV Vídeo Music Awards. Para a primeira vez delas aqui no Brasil, principalmente em Porto Alegre, elas simplesmente arrebentaram! Foi uma das únicas vezes que eu vi, uma banda de abertura conseguir ter quase a mesma energia e agitar tanto o pessoal como a banda principal. Cheers to you girls, you fucking ROCK!

Sobre a atração principal, The Offspring. Galera... Admito que não sei exatamente o que falar devido a qualidade já conhecida, e reconhecida, dos integrantes. Seja em presença de palco, seja na qualidade musical/vocal/instrumental, na produção, nos efeitos de luzes, tudo... O show foi simplesmente perfeito!

Como sempre a banda ofereceu um verdadeiro ESPETÁCULO musical e visual, onde realizaram uma linha do tempo ao tocarem alguns de seus maiores sucessos como “Pretty Fly”, “Come Out and Play”, “Want you Bad”, “All I Want”, ”Bad Habit”, “Why Don’t You Get a Job”, “You’re Gonna Go Far, Kid”, “Self Esteem”, dentre outras que fazem parte da história da banda e dos corações de nós fãs.

Além de suas músicas já consagradas mundialmente, tocaram também uma que fizeram especialmente para a turnê em terras tupiniquins, “Come To Brazil” ao qual fez o público inteiro ir à loucura, cantando junto inclusive cantando mais alto do que o próprio Dexter Holland, pulando, com mãos levantadas, roda punk rolando e copos voando (registrei este momento em vídeo se quiserem provas)! Simplesmente sensacional.

Um detalhe que chamou, positivamente, a atenção do público, foi o novo baterista oficial que entrou recentemente para o backline de uma das bandas mais consagradas do rock/punk mundial, Brandon Pertzborn, que embora destoe do restante da banda por ser mais jovem, possuí uma qualidade técnica matadora, afinal de contas já tocou com ninguém menos do que Marilyn Manson, Doyle, Black Flag, Suicidal Tendencies e também ter tocado em turnês com outros grandes nomes mundiais do rock e metal, tais como Corey Taylor e Limp Bizkit.

Ao fim de cada música, perfeitamente executadas, havia aplausos e reverências tanto de seus colegas de banda, como do público. Brandon chegou “chegando” e mostrando que não está nada para brincadeira! Go get them, mate!

Como tenho dito escrito na verdade, os integrantes do Offspring, são mestres do “Showsmanship”, sabem como realizar não somente um show, uma turnê, e nada prova mais isso do que os detalhes deste show, como faixas coloridas amarradas no teto do Pepsi on Stage caindo sobre o público, uma máquina na frente do palco que começou a fazer chover confetes das mais diversas cores e bolas de plástico gigantes, também coloridas, jogadas para a plateia, que começou a jogar volei NO MEIO DA PISTA!

O público foi a loucura, simplesmente a loucura! Este foi um dos melhores shows não só da minha, mas como da vida de todos os presentes, havia mães e pais com seus filhos pequenos nos ombros, pessoas mais jovens, de meia idade, mais idosas, todas as gerações estavam presentes para aproveitar, comemorar, criar lembranças e apresentar aos seus descendentes, uma das melhores bandas do gênero já vistas.

E claro que como não podia deixar de ser, o público quase fez a estrutura do Pepsi on Stage cair quando foi tocado o hino do Grêmio.

Obrigado The Warning, Obrigado The Offspring por esta noite memorável e simplesmente fantástica que vocês nos proporcionaram. KEEP ON ROCKING!