quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Entrevista: Shaman e Thiago Bianchi - Sinceridade Acima de Tudo

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Shaman encontra-se entre as grandes bandas do Metal brasileiro mundo afora


O papel do vocalista e produtor Thiago Bianchi dentro da cena Heavy Metal brasileira é alvo, de um lado, de muita admiração e, de outro, muita crítica e polêmica. Afinal, a denúncia de uma cena enfraquecida em termos de valorização por parte dos fãs, com shows Brasil afora muitas vezes vazios, também foram motivos para manifestações outras de artistas brasileiros de renome mundial e gera discussão diariamente entre músicos e fãs.

Polêmicas a parte, a verdade é que Thiago Bianchi é um músico completo. Quer você goste quer não, o cara é vocalista da banda Shaman, conhecida e respeitada mundialmente e, ao lado de seus companheiros Ricardo Confessori (bateria, também do Angra), Léo Mancini (guitarra) e Fernando Quesada (baixo e violão), conseguiu, no mais recente disco “Origins” (2010), “reviver” a atmosfera característica da banda que mescla o Power Metal rápido com passagens mais cadenciadas, gerando canções ou trechos de uma beleza única no cenário brasileiro.


Em dez anos, foram dois discos de estúdio, mudança drástica na formação, mais dois bons discos com a formação atual estabilizada, além de dois DVDs ao vivo, incluindo aquele gravado com a Bouslav Prague Orchestra na República Tcheca, numa experiência de dar inveja.

Mas Bianchi também atua nos bastidores, como produtor de algumas jovens bandas e sempre está disponível nas redes sociais da internet para um papo com os fãs.
           
Conversamos com o vocalista, cujo foco da entrevista foi divido entre o Shaman, onde conta como foi a experiência do DVD citado, o último disco e como chegou até a banda, exaltando bastante a importância dos fãs da banda, além do Karma (banda anterior ao Shaman) e o novo projeto Arena. Na segunda parte, conversamos um pouco sobre a cena brasileira, num papo mais direto e não livre de certa polêmica. Confira.


Road to Metal: Você entrou no Shaman substituindo André Matos, ao lado de praticamente toda a banda (o único integrante original é o baterista Ricardo Confessori). Mesmo você tendo feito grandes discos com o Karma, qual a sua sensação agora passados mais de cinco anos como frontman do Shaman, tendo gravado dois discos de estúdio, além de dois DVDs ao vivo com a banda?

Thiago Bianchi: É a melhor possível. Tenho muito orgulho e muito entusiasmo quando se trata de falar de SHAMAN. Levamos a banda pra frente e pra cima, bem como seu nome merece, assim como seus fãs. São cinco anos de muita luta, muitos shows, DVDs com Orquestra na Europa, discos feitos com muito carinho e profundidade energética e musical.

RtM: Como o Shaman chegou até a escolha sua como vocalista e como foi o primeiro dia após se efetivado o novo vocalista da banda?

TB: Ricardo e eu somos amigos há quase quinze anos, com uma história de muitos trabalhos juntos, como em demos do Angra, do SHAMAN, produções secundárias nos próprios discos do SHAMAN, além de produções de bandas de Metal mundo afora. Quando a banda se desfez, ele me ligou pedindo ajuda para a escolha de novos membros e eu prontamente o ajudei. Depois de todos escolhidos, estávamos com dificuldade para achar o novo vocal, por tanto comecei a assumir as vozes nos ensaios enquanto o “tal” não era escolhido. A partir daí foi questão de uma ou duas sessões até que todos olhassem pra minha cara e dissessem: “Hey, vamos começar a compor? Porque a banda já está fechada, né?” (risos). E o resto é história...

Confessori, único membro da formação original
RtM: Falando em “Origins” (2010), é bem significativa a volta da banda ao som de origem, com aquele clima natural e com elementos da cultura indígena. Mas, além disso, pudemos notar que, diferentemente do disco “Immortal” (2007), em que a expectativa estava de que a banda soltasse um novo “Ritual” (2002), com o novo trabalho puderam agradar os fãs da formação clássica, além de levar o nome da banda para novos públicos. O que você poderia dizer que mudou de um disco para o outro desde que chegou à banda?

TB: Bom, uma coisa é clara pra nós, não fazemos discos por obrigação, nem para agradar fulano ou beltrano. Somos uma banda de HEAVY METAL BRASILEIRA e é nosso legado, nosso comprometimento é com a “honestidade” e “profundidade” musical. A partir daí, o público que percebe isso, passa a nos apoiar. Sinto que ganhamos muitos novos fãs, quando deixamos claro que a música é a estrela de nossa banda, fãs de qualidade, que amam boa música, feita com carinho, rica em detalhes e estórias e claro, com muitos riffs e pegada de HEAVY METAL de verdade! E justamente por conta de tudo isso também pôde excluir aquela parte dos fãs antigos que não OUVEM música, mas sim, USAM música como uma espécie de preenchimento para suas almas vazias e sem sentido. 


Bianchi, Quesada e Confessori na gravação do DVD na República Tcheca

Hoje posso dizer que somos uma banda de fãs de muita qualidade e por isso tenho muito orgulho. Nosso público hoje é pensante, inteligente e claro, tem música em seus corações, não em seus rabos! (risos)



4º disco de estúdio da banda, lançado em 2010
RtM: Você já falou bastante sobre o conceito por trás do novo disco da banda. Mas, em linhas gerais, qual a mensagem que a estória tenta deixar para quem ouvir o trabalho?

TB: A mensagem é simples: Iluminação. Somos uma banda que claramente tem como principal objetivo, servir como uma espécie de “bússola musical” para quem busca clareza e entendimento do cosmos ao seu redor. Você pode ter isso através da música e é isso que buscamos. Como disse acima, estamos aqui para servir também de “rumo” para toda e qualquer alma que busque “Luz”. Música é uma espécie de meditação e o SHAMAN é seu guia, se você o deixar entrar em seu coração.


Após sair do Angra, Confessori montou o Shaman e lidera o grupo até hoje, mesmo tendo voltado ao Angra em 2009



RtM: Um ponto marcante da carreira da banda, com certeza, deve ter sido a gravação do DVD com a Buslav Orchestra (República Tcheca) no festival “Masters of Rock”. Como foi a escolha do setlist e como se dá um trabalho de orquestração de músicas que foram compostas, originalmente, sem esses elementos tão evidenciados?

TB: Bom, foi um sonho com certeza. Não sei explicar e com certeza se tentasse, iria precisar de alguns gigas de espaço em seu site para conseguir passar um pouco do que sentimos ao fazer aquele DVD. (risos)

O que vale ser dito é que sentimos que representamos nosso país, com honra e dedicação extrema, como nossos fãs merecem, tanto que depois de nosso show, fomos “tietados” por não só membros da platéia, mas também de outras bandas que participaram do evento, como o pessoal do RAGE, NIGHTWISH e algumas outras...
Capa do DVD recente

A escolha do setlist foi bem tranqüila, testamos as que se encaixaria melhor na situação “com orquestra” e o resto vocês podem conferir no DVD, principalmente na parte de “Making of”, que já seguindo nossa tradição, é diversão garantida para o público que o assistir.

RtM: É de praxe que bandas brasileiras levem mais público aos shows no exterior, especialmente Ásia e Europa, do que no seu próprio país. Isso já acontece há décadas. Pensando nisso, como vocês percebem a aceitação internacional da banda e nos conte um pouco dos países que você esteve com a banda e que marcaram a sua carreira, seja pela estrutura, seja pelo público.

TB: Nosso público, como disse acima, é muito similar em todos os lugares que passamos. São todos muito esclarecidos e inteligentes, além de terem contato muito diferenciado com os detalhes da existência do que o resto das pessoas. Acho que isso que verdadeiramente os diferenciam do resto da massa. Portanto, aqui ou em qualquer lugar do mundo, você poderá perceber que fã de SHAMAN é fã da vida!

RtM: Temos uma cena nacional com inúmeras bandas de Power Metal ou Prog/Power Metal. Você, sendo também um produtor, tem contato com várias bandas que estão começando. Com essa sua experiência, qual recado pode deixar para a rapaziada que sonha em tocar o som que bandas como Angra, Hangar e o próprio Shaman foram grandes responsáveis pelo gênero no Brasil?

Leo Mancini e a orquestra que acompanhou o Shaman no show

TB: Façam música pelo coração e não por qualquer outro motivo. Com certeza assim, as coisas serão verdadeiras e muito mais próximas de algo realmente concreto e verdadeiro, coisa que não tem acontecido em várias áreas do mundo ultimamente. Sendo assim, automaticamente, você se destacará.

RtM: Como anda a agenda do Shaman? Quais os planos para 2012 será que vai rolar um novo trabalho, novo disco ao vivo...

TB: Muitos shows e atividades em geral. Já um disco, ainda é cedo pra dizer, mas assim que souber, prometo que conto. (risos)

RtM: Recentemente você divulgou que está retomando um antigo projeto, o Arena. Conte-nos mais sobre essa idéia e o que podemos esperar?


TB: UM PUTA DISCO. Sem mais. (risos). Em alguns dias, vocês poderão ouvir e chegar a suas próprias conclusões, por enquanto, essa é a minha. (risos) [Nota do editor: entrevista realizada antes da divulgação da música “Trust”, que você pode ouvir no nosso player)


RtM: Já que estamos falando de seu trabalho fora do Shaman, qual a situação do Karma? Vocês possuem um grande trabalho, mas o grupo não lançou mais nada desde a sua chegada ao Shaman.

TB: É cedo pra dizer, mas com certeza voltaremos a trabalhar juntos, só não é a hora ainda...





Sobre o dia do Metal nacional

RtM: No ano de 2011 você se envolveu em diversos projetos para reerguer a cena metal nacional, inclusive com declarações um tanto polêmicas. Como surgiu está idéia de levantar a bandeira do metal nacional?


TB: Pela própria situação que se encontra o Metal Nacional. Vamos ver o que mais poderemos fazer nesse ano de 2012.

RtM: Essas manifestações acabaram gerando inúmeras polêmicas tanto na mídia, como com músicos e fãs. Quais foram os pontos negativos e positivos que você conseguiu identificar?

TB: Muita crítica e pouca atitude por parte do público. Parece às vezes, que o povo se deixa levar, pela falta de noção de alguns. Tenho certeza que isso muda um dia, mas com certeza não estamos vivendo esse dia, por enquanto.

RtM: Após esse primeiro passo que você deu em nome da cena, muitos músicos se manifestaram também, o que você pensa sobre estas manifestações?

TB: Ótimas, todos foram muito solícitos e manifestaram suas idéias diretamente a mim, coisa que me agradou muito, pois mostrou postura de muito caráter dessa galera, além de mesmo os contra, também terem mostrado imediata abertura para ajudar no que fosse preciso para a melhora da cena... Assim nasceu o Dia do Metal, com a união dessa galera.

RtM: Recentemente em São Paulo você organizou um grande evento somente com bandas nacionais, mas o que marcou o evento foi o baixo público. Thiago, você pretende dar continuidade a este projeto? Pois esse foi o festival Power Metal como informado, teria planos para dar continuidade com bandas de outros estilos?

TB: Não, o que marcou o evento, foi o evento em si. O “tal baixo público” ficou por conta das declarações do Edu Falaschi sobre isso no dia do evento. Não foi realmente o público esperado, mas deu lá suas 600 pessoas, o que é quase normal para um evento num domingo chuvoso. Agora, digo quase, pois aí sim, consegui provar o que disse nas tais cartas criticando a postura dos metaleiros. Aí está a prova. Quem dizia que não estávamos num “abismo” do estilo, pode conferir como as coisas estão de verdade.

Com certeza farei mais eventos, enquanto sentir que o estilo precisa de minha ajuda ajudarei. Acho que todos deveriam ter esse tipo de atitude com as coisas que amam como a cena do Metal Nacional. Mas hey, quem sou eu pra querer algo de diferente nesse país, conformista e hipócrita? Né? (risos)

RtM: Em nome de toda a equipe Road to Metal, agradecemos sua disponibilidade de tempo. Thiago deixe uma última mensagem aí para os leitores do blog. Obrigado!

TB: Obrigado pelo espaço. Beijo no coração de todos, principalmente nos que precisam de mais amor!

Entrevista: Renato Sanson/Eduardo Cadore
Revisão: Renato Sanson/Eduardo Cadore
Introdução: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação, Diana Vigasova

Acesse e conheça mais sobre o trabalho do vocalista e suas bandas
Shaman:

Thiago Bianchi:
Myspace

Assista aos dois vídeos do disco "Origins": "Finally Home" e "Ego (Part I & II)"





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