quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Entrevista: Marcelo "Reverendo" Rossi Fala Sobre o Filme "50 anos do Rock Brasileiro"



O baixista e vocalista Marcelo "Reverendo" Rossi, ex-Exxotíca e atualmente na banda Reverendo, fugiu um pouco dos seus trabalhos como músico para dirigir e produzir um filme contando a história do Rock brasileiro, batizado com o nome de "50 anos do Rock Brasileiro", prestes a ser lançado em janeiro de 2014.

Na entrevista a seguir, o músico conta detalhe e com exclusividade do que irá ter nesse registro para o Road To Metal. Confira!

Road to Metal: Como surgiu a ideia de dirigir e produzir o filme "50 anos do Rock Brasileiro"? 

Marcelo: A ideia foi porque percebi, como músico, que o Rock brasileiro estava muito esquecido pelos fãs e pela mídia. E isso eu achava um absurdo (e acho até hoje), porque são pessoas que estão ai dando sangue e fazendo arte de qualidade, e por conta dessa “doce” invasão gringa, todo mundo parece que esqueceu, fica alucinado e só quer saber do pessoal de fora, esquecendo que nós brasileiros fazemos Rock de muita qualidade também. A percepção e a ideia de fazer esse filme vem por conta dessa revolta interna, que começou com os fãs por terem colocado o Rock brasileiro de lado, na minha opinião.

"Não espero recompensa nenhuma, eu só estou fazendo o que acho que é minha obrigação"

RtM: E como esse filme será abordado? 

Marcelo: O filme começa com o pioneiro, que irá ter uma narrativa, com muitas cenas de bastidores, shows, cartazes, fotos e depoimentos. Ele será dividido em três partes: dos anos 50 e 60, que foi o início de tudo; os anos 70 e 80, que foi o grande auge do Rock brasileiro; e os 90 e 2000, que foi a mudança e os novos estilos. 

RtM: Sempre tem um planejamento antes de começar a dirigir um filme. Como foi esse processo?

Marcelo: O processo foi longo, porque eu não conseguiria fazer isso sozinho, por mais que eu seja um Videomaker com uma certa ousadia e determinação, esse é o tipo de coisa que não se faz sozinho: tem que ter parceiros, pessoas que trabalham com você e a boa vontade dos músicos. E eu percebi que demandaria muito tempo pra fazer isso, e venho tentando fazer isso desde 2010 quando eu escrevi um projeto, contratei um consultor que o escrevesse para ser aprovado pela Secretária da Cultura de São Paulo. Todo esse custo que teria ao fazer isso eu precisava de verba de renuncia fiscal, afinal é um interesse de todos resgatar a memória e os valores do nosso Rock. Então eu fui atrás do ProAc pra escrever um projeto com os custos lá em baixo, realmente lá no chão. E depois de dois anos, eu consegui a aprovação. Conseguindo a aprovação do ProAc, eu demorei mais um ano pra conseguir patrocinadores: a Max Del, que é uma empresa de parafusos. Não tem nada a ver com Rock N' Roll, mas aceitaram em fazer o aporte financeiro do nosso projeto. E também tem mais dois patrocinadores, que é uma empresa de cortinas, tapetes e carpetes chamada Chikitita, e outra empresa de móveis chamada Bonatto. 

"Você tem que ter um tipo de análise e o senso crítico de ver a banda ao vivo, ver o clipe, ouvir uma música e falar se é bom ou se é ruim"

RtM: Quais são as personalidades que estarão presentes no filme? E qual foi a melhor pessoa que você recepcionou? 

Marcelo: Não tem melhor, cada um tem sua história. Não tem história melhor ou pior que a outra, só são histórias diferentes. A gente começa no final dos anos 50 com o pioneiro de tudo, um cara pré-beatle. O nome dele é Sergio Beneli Campello (nome artístico Tony Campello). Ele começou tudo, veio de Taubaté e vai narrar detalhadamente como foi o processo. Ele chegou a São Paulo, encontrou um produtor, uma gravadora... A gente vai passar também por outras personalidades dos anos 60, como Albert Pavão, que foi músico e biógrafo do Rock brasileiro naquela época; Netinho, dos Incríveis. Depois a gente sobe pros anos 70, que tem bastante gente como Sergio Hinds (O Terço), Oswaldo Vecchione (Made In Brazil), Rolando Castello Junior (Patrulha do Espaço), Pedrão Baldanza (Som Nosso de Cada Dia), Gerson Conrad (Secos e Molhados); Nos anos 80 tem o Fernando Deluqui (RPM), Roger Moreira (Ultraje A Rigor), Marcelo Nova (ex-Camisa de Vênus), Clemente Nascimento (Inocentes e Plebe Rude), Paulo Thomaz (ex-Harppia, ex-Firefox, Baranga e Kamboja), Walcyr Chalas da Woodstock Discos... Depois passamos pela as fases mais atuais com o produtor Paulo Anhaia, que foi braço direito do Ricky Bonadio, a Luka Salomão da 89 Fm, Gastão Moreira que foi do Fúria Metal da MTV, Luciano Piantoni da Rock Brigade... Ainda estamos tentando colocar mais pessoas. O elenco está formidável, que está em torno de quarenta pessoas. 

RtM: Bem legal. Sendo que o filme será bem completo e resgatando todas as vertentes do Rock brasileiro de cada década, como ele irá servir para o tele-espectador assistindo esse documentário! Você pensa num tipo de recompensa? 

Marcelo: Não espero recompensa nenhuma (risos), eu só estou fazendo o que acho que é minha obrigação. Eu também faço parte desse movimento, embora tenha uma aproximação muito menor do que muitos que estão ai, mas eu acho que é uma obrigação nossa de resgatar nossas memórias e nossos valores. Eu espero que as pessoas que, ao assistirem o filme, deem-se em conta do que elas estão deixando pra trás em prol dos gringos que estão vindo. E nunca estão vindo na sua melhor fase. A gente sabe que muitas bandas que estão aportando aqui no Brasil hoje já não são mais bandas de verdade, elas vêm por conta do dinheiro que ganham com turnê e venda de merchandising, mas agora não é mais banda e nem artístico. Foram no passado, mas atualmente não são mais. Eu vejo o pessoal muito ansioso pela volta do Black Sabbath, mas a volta da banda não tem conteúdo artístico nenhum. Lançaram um disco que é muito bom, mas infelizmente a grande fase do Black Sabbath a gente não viu, quando a banda era banda mesmo. O que estamos vendo é o que sobrou. Podem até discordar, mas é a realidade. 



RtM: Já que o filme fala de Rock brasileiro, como você enxerga a atual cena nacional nos dias de hoje? 

Marcelo: Eu vejo esparsa! Eu vejo uma ou outra banda que tem apoio de mídia e que consegue público, e o público vai muito no que está na mídia. Parece que perderam a racionalidade de procurar e analisar o que é bom e o que não é. Eles precisam de alguém da mídia que manipula pra dizer se é bom. E isso é muito triste, feio e chato! As pessoas perderam a personalidade de analisar por si própria se uma banda é boa ou não. Isso me deixa preocupado. Você tem que ter um tipo de análise e o senso crítico de ver a banda ao vivo, ver o clipe, ouvir uma música e falar se é bom ou se é ruim. E o público brasileiro perdeu isso completamente. Eu espero que o filme sirva pra abrir os olhos de todas essas pessoas, que é a minha missão. 

RtM: E quando o filme vai estar disponível pra gente poder ver e conferir? 

Marcelo: Final de janeiro ele vai estar disponível no Youtube, já criamos o canal com o trailer disponível. O filme vai ser chamar "50 anos do Rock Brasileiro", que também é o nome do canal do Youtube. Nele vamos disponibilizar as três partes do filme e alguns depoimentos na integra que serão disponibilizados com o correr do tempo. A gente acredita que até março ou abril já tenhamos tudo isso no Youtube. O filme com certeza até o final de janeiro, mas os depoimentos na integra até o final de março ou comecinho de abril. 

RtM: Muito obrigado pela atenção. Gostaria de deixar uma mensagem para os leitores? 
Marcelo: Enchem suas vidas com Rock N' Roll e prestem atenção no filme, porque tem muita gente boa e não precisa apenas se voltar para os gringos. 

Entrevista: Gabriel Arruda
Revisão/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação 

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