sábado, 14 de dezembro de 2013

Resenha de Shows: Cauldron e Bandas Nacionais Incendeiam o Rio de Janeiro

Apesar do baixo público, Rio teve noite de puro Metal

Com os portões do Odisséia abrindo depois do previsto, as poucas pessoas que ali se encontravam se preparavam para ver a primeira das três bandas de abertura da noite: a Tamuya Thrash Tribe. Apesar do nome, a banda liricamente influenciada por cultura indígena tem um gênero musical indefinido, e talvez classificá-la apenas como “metal extremo” seja o mais eficiente, uma vez que os riffs, melodias e solos têm diferentes variações de velocidade, agressividade e clima, caracterizando um som puxado para o Thrash/Death, mas com muitas características de Black, Groove e Doom Metal. 

Tamuya Thrash Tribe iniciou as apresentações da noite com muito peso

Muito pesada, o som da banda foi tirado não apenas dos dois álbuns gravados da banda, mas também de inéditas que se farão presentes em um trabalho futuro. Começando com “Last Ball”, o curto setlist se estendeu com a melódica “Agonising and Insufferable”. “Aqui, deus do trovão não é Thor, é Tupã!”, anunciava-se, pouco antes da intro da música homônima à banda. Embora a bela “Immortal King” não tenha se feito presente, a banda impressionou o público, que lentamente crescia, terminando com a música “Zumbi”.

Forkill apresentou seu excelente disco "Breathing Hate"

O público crescia, mas de forma dolorosamente lenta, e ainda era um público tímido e pouco animado. Mesmo assim, subia no palco a Forkill, apresentando seu excelente disco “Breathing Hate” (2013). A banda trazia um Thrash muito rápido e pesado, e, ainda tendo uma pegada brasileira moderna em seu som, a banda faz um som com claras influências do Thrash americano dos anos oitenta... aquele que na época nem sequer era considerado Thrash, por ser demasiado rápido e denso.  A agressividade musical se evidenciou quando a banda chamou um amigo ao palco para assumir os vocais de um excelente clássico: “Seasons in the Abyss”! Ainda que a escolha pareça um pouco incomum, a banda executou perfeitamente uma das maiores pirações de Jeff Hanneman e Tom Araya (Slayer), com o som seguinte, ainda, tendo sido precedido pela intro de “Raining Blood”.

Still Alive contrastou com as demais bandas, apresentando Heavy Metal com melodia

Contrastando com as bandas extremas que precediam, subia então no palco a grandiosa do Power Metal carioca Still Alive. Apesar do contraste supracitado, a banda trazia vocais muito limpos, mais próximos aos da banda principal. Abusando de teclados e solos extra-melódicos, a banda trazia também influências diretas do Heavy tradicional, algo muito Maiden, principalmente nos vocais e contrabaixo, em uma excelente interpretação das músicas de seu disco, “Kyo”.

Primeira passagem da banda canadense em solo brasileiro

Cerca de meia-hora depois do previsto, o Cauldron entrou em cena, agora com um público maior – mas definitivamente decepcionante, tendo em vista a grandiosidade do show, com cara de mini-festival. Mas os canadenses ainda foram energéticos e furiosos, começando com a perfeita introdução que precedia a faixa-título do último disco, o ótimo “Tomorrow’s Lost”! Apesar de seu som marcar, para muitos, uma forma moderna do Heavy Metal tradicional, a velocidade de seus riffs era tão grande quanto à de muitas bandas de Speed Metal, com impressionantes solos que perfaziam boa parte da música como a música seguinte, ainda do “Tomorrow’s Lost”, “Burning Fortune”, uma faixa curta, mas com uma grandiosa intensidade. Mas se ainda havia pessoas que não estivessem batendo cabeça, a maior pedrada do último álbum estaria vindo: “Nitebreaker”, totalmente com cara de Metal tradicional, com seus riffs grudentos e solos melódicos e extensivos, fez todos os presentes descobrirem o porquê do Cauldron ser uma banda aclamada.

Apesar de um setlist que deixou de fora algumas ótimas composições, Cauldron tocou seus clássicos

Para descansar um pouco, a banda trouxe uma música muito mais lenta, com uma pegada quase Doom, do disco anterior, “Burning Fortune”: “Queen of Fire”. Foi um testamento para as habilidades na guitarra de Ian Chains. Já as habilidades na bateria de Myles Deck seriam provadas na faixa seguinte, a deveras veloz “Rapid City”. A faixa seguinte, voltando ao “Burning Fortune”, seria talvez a faixa que mais traz o aspecto de Metal tradicional à banda da noite: “Miss You to Death”, um petardo em velocidade moderada com vários riffs, um ritmo feito principalmente com o contrabaixo de Jason Decay, que canta aqui com uma voz mais grave que antes, às vezes deixando os backing vocals quase desnecessários. 

O que viria a seguir traria uma surpresa para os que não acompanham o repertório da banda: um cover da clássica “Digital Bitch”, do Black Sabbath, mais precisamente do disco com Ian Gillan, “Born Again”! Não é a toa que seja uma das faixas mais bem faladas do disco em questão, pois é completamente Heavy Metal, e combina com o som veloz e limpo do Cauldron – ainda que os riffs sejam incrivelmente densos combinados com a distorção de forma que só Tony Iommi sabe compor. E para continuar com um clima rápido e intenso, a música emendada fora nada menos que “All or Nothing”, um já clássico da banda, cheia de solos rapidíssimos, questionando aspectos da vida que a todos irritam, e tendo, de longe, o refrão mais grudento da história da banda.

A última faixa a ser tocada do “Tomorrow’s Lost” no show talvez fosse ser um pouco morna, já que não é uma das mais populares, mas “Fight For Day”, além de ser a faixa mais bem balanceada entre contrabaixo e guitarra do disco, trazia riffs excelentes que praticamente pediam abuso dos pratos por parte do baterista, o que até suavizava o grito no final, que logo antecedeu um som muito menos limpo: a clássica titular de um antigo EP, “Into the Cauldron”, usando riffs mais diretos e vocais rasgados, baseada em graves tons da bateria. Apesar dos solos menos técnicos e maduros, era definitivamente o melhor som da banda para preceder o cover que viria a seguinte, de uma das bandas que mais influenciavam a banda desde o início: a super clássica do Venom: “Die Hard”!

O Venom nunca foi uma banda técnica, fazendo com que seu som ao vivo sempre parecesse diferente a cada concerto, algo aberto a interpretações até mesmo de bandas de estilos diferentes, como o Cauldron. Com os mesmos vocais rasgados e distorções sujas de “Into the Cauldron”, a música foi claramente um dos picos do show, e mostrava que a banda não se limitava a influências menos pesadas. Muito embora a música que fecharia o show fosse diferente, tinha um clima muito pesado: “Chained Up in Chains” tem um ritmo comercial no refrão, mas ao vivo, a música passa de atmosférica a monstruosamente densa e pesada, uma das pérolas da noite. Com partes soladas que deixavam o ritmo pesado a trabalho do baixo e bateria, a relativamente depressiva mudança de temporização entre os riffs, uma música tão sentimental parece um grande mix de estilos. Por ser a última faixa de um setlist curto, deixou-se o público querendo mais, e isso se enfatizava pelo fato de que outros clássicos absolutos do “Chained to the Nite” não entraram pro repertório... e não apenas “Dreams Die Young” e a popular “Conjure the Mass” ficaram de fora, como “Taken By Desire” e a visceral “Frozen in Fire”, ambas do rancoroso “Burning Fortune”, também não tiveram seu lugar na noite.
O público mais do que diminuto talvez não tenha sido um tributo merecido à memorável noite, ainda mais considerando que parte dele estava com uma fria atuação diante de uma calorosa performance de um dos atos que melhor demonstram o reavivamento do Metal tradicional em tempos modernos.

Texto/fotos: Lucas Cottica
Edição/revisão: Eduardo Cadore

Nossos agradecimentos à pessoa da Miky Ruta (Fame Entreprises) pelo credenciamento do nosso redator e total profissionalismo. Agradecemos a confiança.

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