quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Alkanza: Caos Em Formato Sonoro


Teorias que levam ao caos

Em 1948, Claude Elwood Shannon e Warren Weaver, matemáticos, norte americanos desenvolviam estudos científicos em torno das teorias comunicativas. Buscavam diminuir os ruídos entre comunicações, pois causavam entendimento dúbio (e por isso adotou-se o termo “ruído” para cada desinformação que cause falta de entendimento ou mau entendimento). Nesta busca, desenvolveram muitas teorias e baseados em cálculos matemáticos chegaram a (dentre muitas outras) uma conclusão: “Por mais que se evite todo sistema tende ao caos!”. Inclusive a máquina mais perfeita da natureza está, diariamente, exposta e sujeita ao caos.

E neste clima apocalíptico, a Alkanza chega com o “Destroyed The System”. Até o momento foi liberado apenas o EP (Faça o download aqui) com quatro músicas enquanto os trabalhos seguem. São praticamente quatro canhões conscientes apontados para a sociedade, quatro armas carregadas de pedido de socorro, indignação e alertas sociais anunciando o colapso para o qual estamos nos conduzindo. Na era da informação, onde tudo e todos estão, doentiamente, dependentes do sistema para tudo, não há prenuncio do caos maior do que a destruição do sistema. Talvez a chance para um novo começo, ou início do fim.


Violência limitada é grosseria!

A primeira música do EP começa verbalizando o descaso nacional: -

Brasil, Pátria amada, de cabeças pouco pensantes, de bocas muito falantes, de grana lavada com sangue do povo...”. 

Explana sobre os direitos que os cidadãos (não) têm, um pequeno tapa na cara dos líderes políticos.

Musicalmente falando, as guitarras vêm rimando com riffs gordos e cadenciados ao melhor estilo “Old School”, uma pegada muito inspirada no bom e velho blues. Notadamente se percebem as influências de bandas que montaram os padrões no passado como ACCEPT, AC/DC, IRON MAIDEN, MOTÖRHEAD, etc.

Aos dois minutos e cinqüenta e sete segundos acontece à virada e o que era blues se transforma para mostrar a verdadeira cara da Alkanza. Com uma batida mais acelerada vem o vocativo “... Let’s start fighting before is too late...”. E nesse ritmo se encerra a apresentação do disco. Aqui nessa apresentação talvez o inglês com o sotaque ainda pesado, vá bater no ouvido antes de entrar, mas vá com calma, esse fator está longe de sobrepor à qualidade musical.


Muito destrói quem nada faz

A seqüência destrutiva segue cadenciada e dinâmica. Falando em dinamismo, esta é uma característica evidente em todas as músicas do trabalho, e nem tudo é o que parece. Mas o que parece ser agressividade, sim é agressivo mesmo. “Destroyer” vem agigantando a musicalidade, e aqui o inglês, já com bem menos sotaque, deixa mais macia à degustação musical. Em curto espaço fica evidente a evolução musical do grupo. Thiago abusa do vocal “rasgado” gutural, essa característica traz, ainda mais, a presença das trevas para as composições. Chamados de destruição, vocal rasgado e guitarras evaporando peso, tornam “Destroyed The System” sinistramente perfeito.

A música “Destroyed” me fez pensar que, só existe um ser mais mortal que um vírus contagiante: Os Políticos!


Ação e reação

Letras muito bem arquitetadas e composições ricas em revolta social. Revolta com quem está sangrando nosso mundo ao poucos. Lideres que tem o poder de mudar e não mudam, e o “gado no pasto” que está vendo tudo acontecer, mas enquanto o pasto estiver verde, vai aceitar a destruição de bom grado. A terceira música da compilação (Demolition) vem recheada de inspirações e se Alkanza é uma banda Thrash Metal (e isto é uma afirmação) vem mostrar o quanto o estilo é rico e permissivo às diversidades.  Renato quase faz o baixo ser enxergado, tamanha a presença e a boa sensação causada nessa música.

Em outras músicas a influência do blues já foi notada, aqui Renato fez presente à influência do velho Steve Harris e seu baixo “galopado”. Em 3min04seg a música vira novamente, e o que até aqui era um classic heavy se transmuta em um Crossover esmagador por 41 segundos. Quando chega o refrão: “DEMOLITION, this fixation, BORN TO KILL, every nation...” é, praticamente, impossível não lembrar a capa de “Full Metal Jack” com o capacete militar e suas inscrições. Alias, esse é um filme do Stanley Kubrick que trata de “desumanização”. Será que pode ser mais uma influência notada?
 

O quarto poder

Para introduzir a música que encerra o EP, cito Oscar Wilde: “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. E se vivo fosse atualmente, concordaria com a Alkanza e completaria a segunda oração com: “... para assistir TV”. Como já havia comentado antes, mais uma vez a banda capricha na dinâmica da música brincando entre troca de ritmo, quebradas musicais e excelentes riffs.

De um modo geral as músicas ficaram muito bem equalizadas, em nenhum momento um instrumento ou voz se sobrepõe aos demais.

Mesmo antes de ouvir as músicas, ao olhar a capa do disco já se sabe o que está por vir. Uma espécie de corredor de hospital, duas enfermeiras (profissionais que deveriam cuidar de enfermos) com marcas de sangue nas roupas, uma delas traz a inscrição “SUS” no jaleco, berços incendiando com crianças dentro e ao fundo muitas pessoas enclausuradas pelo fogo.


A multidão ao fundo, tem o rosto deformado e isto deixa uma dúvida no ar: Seriam elas vítimas mesmo? Ou a complacência delas as torna tão nocivas quanto os criminosos? Alkanza nos deu uma ótima amostra de que, vem muita coisa boa pela frente.

Pois baixe, escute, abuse e “pense por você”.

Texto: Uillian Vargas
Edição/revisão: Renato Sanson
Fotos: Divulgação

Tracklist:
01 This is violence
02 Destroyer
03 Demolition
04 Psycho Terror


Banda: ALKANZA
País: Brasil
Estilo: Thrash Metal
Ano: 2014
Assessoria: Heavy And Hell Press

Formação:
Thiago (Vocal/Guitarra)
André (Guitarra/Backing Vocal)
Renato (Baixo)
Leonardo (Bateria)

Conheça mais a banda:


  

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