sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Kill Devil Hill: Construindo a Identidade Como Grupo

No fim de 2013, supergrupo lança 2º trabalho estabelecendo identidade

Supergrupos com grandes nomes da música pesada sempre atraem atenção mesmo antes de soltar a primeira canção. Isso aconteceu com o Kill Devil Hill, trazendo Rex Brown no baixo (Pantera) e Vinnie Appice na bateria (Dio, Black Sabbath, Heaven and Hell), causando alvoroço que se materializou no ótimo debut álbum homônimo de 2012.

Passados quase dois anos e agora que já estamos familiarizados com o até então desconhecido vocalista Dewey Bragg e o guita Mark Zavon, o supergrupo (que ainda precisa cativar maior número de headbangers) chega com “Revolution Rise” (2013) que, apesar do nome, não revoluciona, mas qualifica ainda mais a personalidade do grupo.

Dewey canta de forma mais melódica em boa parte das músicas
Se o disco anterior trazia mais faixas rápidas e com certa aceleração, embora com passagens aqui e acolá mais arrastadas (afinal, estamos falando de um ex-Sabbath nas baquetas), neste novo trabalho a banda parece ter quisto segurar o som na maior parte das faixas, deixando-o mais arrastado, pesado e sombrio. O que não ocorre na faixa de abertura “No Way Out”, que traz certa velocidade, ótimos riffs de Mark e o baixo marcante de Rex (mas não é uma “War Machine”), nem em “Crown of Thorns” com a batera com algumas quebras do grande Appice e um vocal de Dewey que chega a remeter a fase James Hetfield (Metallica) no fim dos anos 90.

Dispensado do Sabbath com a volta de Ozzy, Vinnie investe com sucesso na nova banda

Há melodia nos vocais, o que tirou um pouco aquela agressividade que alguns pontos lembravam Phil Anselmo (Pantera, Down), com grandes momentos melódicos (Dewey está mais preocupado em cantar bem do que em gritar) como “Wake Up the Dead” e “Long Way From Home”.

A melhor faixa, disparada, é a própria música de trabalho do disco, “Leave It All Behind”, trazendo uma sonoridade inspirada e que recebeu um baita vídeo clipe (confira abaixo).


Rex considera "Revolution Rise" um de seus melhores trabalhos. Será?

Individualmente, cada músico mostra sua qualidade, indiscutível, sobretudo quando falamos dos mundialmente famosos Rex e Vinnie, mas a verdade que é como um grupo que o quarteto mostra sua grande força e ainda mais neste disco, fica evidente que não vivem nas sombras de sua história, mas estão pavimentando seu caminho passo a passo, disco a disco, como uma nova banda, claro que parcialmente impulsionada pela fama de seus integrantes.

“Revolution Rise” é um novo passo, o que não quer dizer que é melhor que a estreia (pois não é), mas mostra um amadurecimento como banda desse grupo. Quem sabe num próximo disco o grupo venha com músicas um pouco mais rápidas, mas sem esquecer essa identidade própria formada nos dois álbuns já lançados. Para quem não conhece, fica a dica: ouça o primeiro álbum e depois parta para este lançamento.

Stay on the Road

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação

Ficha Técnica
Banda: Kill Devil Hill
Álbum: Revolution Rise
Ano: 2013
País: EUA
Tipo: Heavy/Groove Metal
Selo: Century Media Records

Formação
Dewey Bragg (Vocal)
Mark Zavon (Guitarra)
Rex Brown (Baixo)
Vinnie Appice (Bateria)



Tracklist
1. No Way Out
2. Crown Of Thorns
3. Leave It All Behind
4. Why
5. Wake Up The Dead
6. Long Way From Home
7. Where Angels Dare To Roam
8. Stained Glass Sadness
9. Endless Static
10. Stealing Days
11. Life Goes On

Assista "Leave It All Behind"

Ouça "Crown of Thorns"

Ouça "Why"


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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Seventh Seal: Máquina Heavy Metal


Na ativa desde 1995, o Seventh Seal vem mostrando sua força no cenário metálico, com seu Heavy Metal Tradicional crú e direto. Após uma pausa nas atividades, após o lançamento de "Days of Insanity" (07), o Seventh Seal retorna com força total, e nos presenteia com o ótimo "Mechanical Souls", que chegou ao mercado nacional via Shinigami Records.

Uma das gratas surpresas do álbum, é a adição do vocalista Leandro Caçoilo (Soulspell, ex-Eterna), que mostra que está em seu melhor momento, além de elevar ainda mais o som do grupo, pois sua versatilidade é latente, além do belo timbre melódico.

A produção do disco ficou a cargo do próprio guitarrista Thiago Oliveira, que contou com a mixagem e masterização de Brendan Duffay no Norcal Studio, que deixou a produção limpa, porém pesada, e atual, com todos instrumentos em sintonia, com belos timbres. A parte gráfica é baseada no filme "Blade Runner: O Caçador de Androides", e é muito bem feita, pois traz a tona o conceito lirico do disco, que apesar de não ser conceitual, trata do assunto homem x máquina. Um belo trabalho de Giovanny e Daniel Gava.


Musicalmente o Seventh Seal não decepciona, mostra um Heavy Metal Tradicional pesado, direto e porque não arrojado, com composições bem estruturadas e com boa técnica. A abertura com "Beyond The Sun" mostra todas essas qualidades, riffs poderosos, andamento rápido e com linhas vocais excepcionais, sem contar o refrão cativante e forte.

"Back to the Game" e "Souless Reality" mostram excelentes arranjos, além da levada alternada, com momentos rápidos e outros mais amenos, com solos de guitarras excelentes.


A belissima "Sleepless" apresenta ótimos vocais, e arranjos belíssimos, assim como a poderosa "Mechanical Souls", que apresenta um ótimo trabalho de baixo-bateria.

Uma volta mais do que acertada, certamente um dos grandes lançamentos de 2013. Se você gosta de Heavy Metal sem frescuras, conheça o Seventh Seal.


Texto/edição: Renato Sanson
Fotos: Divulgação


Ficha Técnica:
Banda: Seventh Seal
Álbum: Mechanical Souls
Ano: 2013
Estilo: Heavy Metal
País: Brasil
Gravadora: Shinigami Records 

Formação: 
Leandro Caçoilo (Vocal)
Thiago Oliveira (Guitarra)
Tiago Claro (Guitarra)
Victor Prospera (Baixo)
Roberto "Bob" Moratti (Bateria)


Tracklist:
01 Beyond the Sun
02 Back to the Game
03 Souless Reality
04 334
05 Sleepless
06 Imprint Memories
07 Mechanical Souls
08 Dreams of Green
09 Virtual Ego
10 Dark Chant


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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Arandu Arakuaa: Não Dá Para Ficar Indiferente

Trabalho é recheado de ótimos momentos, mas sofre com passagens deslocadas e quebradas

Difícil resenhar trabalhos como este álbum de estreia da banda brasiliense Arandu Arakuaa, “Kó Yby Oré” (2013), que saiu via Ms Metal Records. Isso porque a banda faz uma sonoridade jamais ouvida dessa forma, que é unir o Metal com elementos indígenas, mas indo aos extremos de cantar na língua nativa dos Tupi, fazendo uma verdadeira salada sonora.

Com o EP de estreia, muito se ouviu de elogios ao grupo, mas desde lá a proposta não me agradou. Conversando com amigos redatores, ouvi de alguns que minha ideia iria mudar com este full lenght. Infelizmente, não foi o que aconteceu, apesar de que me serviu para constatar uma coisa: não tenho cabeça tão aberta para aceitar tamanha mistura.

Proposta original e louvável, mas que soa muito estranha para ouvidos seletos

A parte técnica e instrumental é bastante interessante, com momentos bem legais, cujas melodias merecem altos elogios, mas tudo vai por água abaixo com os vocais guturais, totalmente fora dos eixos da sonoridade de Zândhio Aquino que, quando traz vocais femininos de Nájila Cristina, como na belíssima “Aruanãs”, com ótimas melodias e o ápice final com a chegada de um Baião, fazem valer a audição do álbum. Ouça o começo de “A-kaî T-atá” e me diga se não é de uma sensibilidade incrível. O problema é que a música (assim como a grande maioria) decai com a chegada dos vocais guturais, muito deslocados, desnecessários e que poluem o som (isso que gosto de vocais guturais, quando casam com o instrumental).

A proposta é louvável, até pela postura dos músicos em sempre defender as origens, algo que extrapola o aspecto sonoro, cravado forte nas letras (imagino eu, pois não sei Tupi e você provavelmente não entenderá nada), mas, infelizmente, está fadado a ser um grupo “cult”, aclamado por quem gosta de músicas estranhas e misturas sem limites. Para quem quer Metal com certo padrão, vai passar longe. 



A verdade é que Arandu Arakuaa tem tudo para fazer história, mais pela sua proposta do que por cativar pelo som, cheio de altos e baixos (se apostassem em vocais limpos, os mesmos apresentados no disco, teria mais fé no grupo) que comprometem o trabalho final, na opinião deste humilde redator, que acaba indo na contra-mão de todas as resenhas que foram lidas até agora. Vai ver o louco sou eu. Ouça pela experiência e, se gostar, seja feliz e acompanhe a banda. Se não gostar, respeite e deixe-os de lado. Eu seguirei na esperança de material futuro mais “organizado”, valorizando sempre a cultura indígena, mas não esquecendo que os ouvidos prezam por sons com certa ordem. Até lá, sigo vendo no Glory Opera a verdadeira banda de Metal a valorizar a cultura indígena.

Stay on the Road

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação
Assessoria: Ms Metal Press

Ficha Técnica
Banda: Arandu Arakuaa
Álbum: Kó Yby Oré
Ano: 2013 
País: Brasil
Tipo: Avant-Garde/Metal Folclórico
Selo: Ms Metal Records


Formação
Nájila Cristina (Vocais, Maracá)
Zândhio Aquino (Guitarras, Violão, Viola Caipira, Vocais Tribais, Teclados, Maracá, Apito)
Saulo Lucena (Baixo, Maracá)
Adriano Ferreira (Bateria, Percussão, Maracá)



Tracklist:
01. T-atá îasy-pe
02. Aruanãs
03. Kunhãmuku’i
04. A-kaî T-atá
05. O-îeruré
06. Tykyra
07. Tupinambá
08. îakaré ‘y-pe
09. Auê!
10. A-î-Kuab R-asy
11. Kaapora
12. Gûyrá
13. Moxy Pee Supé Anhangá

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Within Temptation: Novo Álbum "Hydra" Traz Equilíbrio e Modernidade


Já faz alguns anos e alguns álbuns que os holandeses vem remodelando sua sonoridade, e, mesmo com o contínuo crescimento do grupo em vários aspectos, principalmente popularidade, a sonoridade, ao meu ver, trazia altos e baixos nos trabalhos anteriores, "The Heart of Everything" e ainda mais em "The Unforgiving". 

Pouco, ou nada restou de alguns elementos da sonoridade inicial, que trazia traços de Death Metal e aquele Gothic Metal com vocais estilo "Beauty & the Beast" (alternando vocais femininos suaves e vocais masculinos guturais), e a cada álbum a banda foi evoluindo, mudando e acrescentando novos elementos, sendo que a partir de "The Silent Force" alcançou status de grande banda, com seus lançamentos e shows tendo grande sucesso, e hoje, o Within Temptation é uma banda que alcança públicos de outros segmentos, ganhando a cada ano mais seguidores, e, por outro lado, certamente, alguns fãs mais antigos, ou mais radicais, abandonaram o grupo.

Até a periodicidade de lançamentos de trabalhos inéditos tem sido mais longa, pois a banda e gravadora, sendo a atual a Nuclear Blast, têm explorado muito bem o lado comercial, colocando no mercado DVDs, com grandes produções, como o "Black Symphony", e álbuns ao vivo, como o "An Acoustic Night at The Theatre".


O Metal sinfônico e elementos mais modernos, foram se tornando mais evidentes, com o grupo moldando uma sonoridade própria, sobressaindo-se a voz de Sharon, que tornou-se a grande estrela da banda, com sua voz e performances cada vez melhores. Hoje, a banda flerta com elementos modernos, inclusive da Euro Pop e eletrônico (o álbum de versões "The Q-Music Sessions" mostrava algumas das novas intenções), mas em doses interessantes, e, se nos álbuns anteriores, essa sonoridade ainda estava amadurecendo, em "Hydra" eu acredito que eles encontraram o equilíbrio que procuravam.

Em "Hydra", podemos ouvir uma banda madura, segura e equilibrada, com músicas cheias de melodias de fácil assimilação. A base é um Metal sinfônico e moderno, com várias faixas com potencial de "hit", e, ouvindo sem preconceito, é muito bom e agradável, excelente e límpida produção e ainda a voz maravilhosa de Sharon, que parece melhor cada ano que passa.


Contando com várias participações especiais, como Tarja Turunen, na faixa "What About Us", que foi o primeiro single e primeiro clipe de divulgação; Howard Jones (Devil You Know, ex-Killswitch Engage) na faixa "Dangerous", que é um bom exemplo desse lado mais moderno do Within Temptation atual, com muitos sintetizadores, com um riff de guitarra bem legal, sendo pesada e melódica, além do refrão "grudento", aliás, refrãos eles sabem fazer muito bem; "And We Run", traz o rapper Xbit, também conhecido por apresentar o programa "Pimp My Ride" na MTV, é tipo uma power/symphonyc/balad, bem interessante, as que achei que os vocais "rappeados" quando entram, estragam um pouco, e a versão "evolution" que está nas bônus tracks das edições de luxo, ficou mais legal.

Sharon Den Adel ao lado de Tarja Turunen, convidada especial na faixa "What About Us"
Fechando as participações, David Pirner, conhecido pelo seu trabalho no Soul Asylum, divide os vocais com Sharon em "Whole Word is Watching", emocional e bela balada; Voltando um pouco, já que fui direto comentando as faixas com os convidados, destaco a faixa que abre o álbum, "Let Us Burn", bombástica, típica música de abertura, certamente deverá abrir os shows, seguindo uma fórmula de outras faixas fortes que a banda tradicionalmente apresenta nos álbuns, dá pra dizer que é uma música com a cara do Within Temptation, como a "Stand My Ground", por exemplo;"Covered By Roses" também segue essa linha, e até naturalmente soando com algo que eles já fizeram antes, destacando as melodias e vocais bem grudentos, além de alguns efeitos na voz; "Silver Moonlight", pesada e sinfônica, também chama atenção pela pegada, trazendo muitos dos elementos incorporados com ais intensidade a partir do "The Silent Force", e até tem alguns vocais guturais.


Resumindo, um álbum onde a banda encontrou o equilíbrio, encaixando melhor as mudanças que foi incorporando a partir principalmente do "The Heart...", onde os elementos mais modernos, que já vinham experimentando, se somam positivamente a personalidade da banda, e mais coesos, e, antes de tudo, é o melhor trabalho desde "The Silent Force", não tendo músicas que podemos considerar fracas, somente não me agradaram muito algumas bônus, que inclusive tiveram versões já no "The Q-Music Sessions", onde parecem feitas mais para atingir um público diferente, também ligado a música eletrônica, além de tocar em pistas de dança e em baladas.

Bom, não é de hoje que a banda vem fazendo um trabalho comercial muito bom, inclusive comercializando diversos produtos com a sua marca, faz parte, e é preciso lembrar que esse é o trabalho deles, sobrevivem disso, e não é por pensarem no lado financeiro, algo que ambos, banda e gravadora precisam, pois grandes produções exigem grandes investimentos, que deixariam de fazer boa música, e isso eles não deixaram de fazer! 

Saldo final de "Hydra" é muito positivo, e o álbum é altamente indicado aos fãs da banda!

Texto/Edição: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação




Formação:
Sharon den Adel (Vocais)
Robert Westerholt (Guitarra e Vocais)
Ruud Jolie (Guitarra)
Stefan Helleblad (Guitarra)
Jeroen Van Veen (Baixo)
Martijn Spierenburg (Teclados)
Mike Coolen (Bateria)



Tracklist:
1. Let Us Burn
2. Dangerous
3. And We Run
4. Paradise
5. Edge of the World
6. Silver Moonlight
7. Covered By Roses
8. Dog Days
9. Tell Me Why
10.  The Whole World Is Watching

Faixas bônus das versões especiais:
Radioactive (originally performed by Imagine Dragons)
Summertime Sadness (originally performed by Lana del Ray)
Let Her Go (originally performed by Passenger)
Dirty Dancer (originally performed by Enrique Iglesias)
And We Run- evolution track
Silver Moonlight - evolution track
Covered By Roses - evolution track

Tell Me Why - evolution track


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Rhestus: Unindo Thrashers Sob a Bandeira do Heavy Metal

Experiência aliada ao amor pelo Metal

Em 2013, apesar da enxurrada de ótimos lançamentos, alguns EPs se destacaram como trabalhos bastante significativos, muitos até mesmo recebendo prêmios. Foi o caso de “Heavy Metal”, EP de 5 faixas da banda de Indaial/SC, Rhestus, que só obteve elogios da mídia especializada e, claro, de todo bom Headbanger, que quer botar a cabeça para mexer.

E é exatamente isso que a proposta desta experiente banda (duas décadas de história) já te intima em “Noxious Agent”, cuja sonoridade é puro Thrash Metal, quase que mesclando as escolas alemã e norte-americana, mostrando a velocidade e técnica do quarteto Alex Leber (vocal e guitarra), Richard Schmidt (baixo), Andrei Uller (guitarra) e Marcos “Marcão” Diegel (bateria), que recentemente deixou a banda.

Talvez ainda mais seminal que a faixa de abertura, “Wolves Disguised in Sheep” é perfeita para o mosh e circle pit, sendo fácil, mesmo para este redator que não teve oportunidade de ver a Rhestus ao vivo, saber que cai como uma patada na cara. Sonzera sem tirar nem por!

Marcão deixou a banda recentemente, mas marcou seu nome na cena underground

O grupo não esqueceu de gravar uma faixa em português, algo sempre louvável, pois nossa língua é bastante rica. Mas ao invés de criar uma nova canção, o grupo buscou na sua história a música “Insane War” e tornou-a “Guerras Insanas”. Um dos destaques do trabalho.

Para fechar o disco, duas faixas ao vivo: “Scars” e “How to Explain”. Ambas só reafirmam a posição e capacidade do grupo no cenário underground brasileiro. O disco ainda contém um Making Of da gravação do EP, algo um pouco incomum em lançamentos simples como este. 


Apesar de todas as qualidades, a produção mais voltada a um som old school, acabou ficando um pouco abafada, comprometendo minimamente a audição. Nada que mude a ideia de que “Heavy Metal” foi um dos melhores EPs de 2013, sem a menor dúvida.

Stay on the Road

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação
Assesoria: Metal Media

Ficha Técnica
Banda: Rhestus
EP: Heavy Metal
Ano: 2013 
País: Brasil
Tipo: Thrash Metal

Formação
Alex Leber (Vocal e Guitarra)
Andrei Uller (Guitarra)
Richard Schmidt (Baixo)
Marcos Diegel (Bateria)


Tracklist
01. Noxious Agent
02. Wolves Disguise in Sheep
03. Guerras Insanas
04. Scars (Ao vivo)
05. How to Explain (Ao vivo)
07. Making Of (vídeo)

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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

M-19: Que a Destruição Thrash Sirva de Modelo a Toda Terra



A M-19 surgiu nos anos 80, encerrando as atividades no começo de 2000, para retornar em 2011, e toda a experiência que adquiriram através dos anos, demostraram no álbum "Mission: Destroy" (2013), lançado ano passado, pois o concorrido e difícil cenário praticamente não permite erros, e para alcançar resultados e brigar pelo seu espaço, é preciso qualidade e  investimento.

Com produção sonora e gráfica caprichadas, vale destacar a capa e encartes elaborados pelo João Duarte (responsável também por trabalhos para bandas como Scorpions, Circle II Circle, Korzus, Torture Squad e outros), onde a arte representa a ideia da música de abertura, "Destructor", a qual fala que a destruição é um processo inevitável na natureza.

O álbum mostra uma banda segura e coesa, trazendo aquele Thrash influenciado principalmente pelos grande nomes dos anos 80, porém, sem soar datado.

Gravado e produzido por Sebastian Carsin, no Hurricane Studio, "Mission: Destroy" traz 11 faixas cheias de peso e agressividade, repletos de riffs e variações, como, na minha maneira de ver, um bom álbum de Thrash Metal deve ser.


Com uma temática que aborda temas como religião, as agressões da natureza pelo homem, problemas sociais e corrupção, o quarteto vai despejando a porrada, e faixas como "Destructor", que já citamos acima, a qual inspirou a capa, e que é como uma abertura que prepara o ouvinte para o caos sonoro que se segue com "I Kill For God" e "Southern Brave", que o título já entrega, fala sobre o estado de origem, o Rio Grande do Sul, citando, logo no início, um trecho do Hino Riograndense ("Our achievements serve as a model for all land"); outra letra que não poderia deixar de citar é da faixa 4, "171", que também já entrega o tema: "Famous and clowns also want your vote, open up your eyes, not by selling a few notes."

É um álbum bem uniforme, e a influência que senti mais presente na sonoridade é Slayer, mas também podemos citar Nuclear Assault, Kreator e Destruction, o que é normal, afinal a banda começou nos anos 80, quando esses gigantes começavam a caminhar sobre a terra. Essa é sua praia? O M-19 vai lhe agradar em cheio.

Texto/Edição: Carlos Garcia
Revisão: Victor
Fotos: Divulgação e Arquivo da banda

Ficha Técnica
Banda: M-19
Álbum: Mission: Destroy
Ano: 2013 
País: Brasil
Tipo: Thrash Metal
Selo: Independente



Formação
Will F. (Baixo e Vocal)
JR. Vives (Guitarra)
Iuri Dall Olmo (Guitarra)
Carlos Arani (Bateria)

Tracklist:
01-Destructor
02-I Kill For God
03-Southern Brave
04-171
05-Hell is Now
06-Cult of Suffering
07-Thermical Death
08-Ecocide
09-Disequilibrium
10-Resistance
11-School of Crime

Saiba mais sobre a banda:





terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Adrenaline Mob: Mesmo Sem Portnoy, Banda Não Decepciona

Mudança no posto de baterista, um dos pontos fortes da banda, não afetou demais a banda

Com o anúncio da saída do baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater), a dúvida pairou sobre o futuro do Adrenaline Mob que, apesar das características de um projeto, é considerada uma banda pelos próprios integrantes, todos membros de outros grupos.

Mas o medo se dissipa (mas não o fantasma do Portina) com “Men of Honor” (que está sendo lançado hoje via Century Media), o segundo álbum de inéditas do grupo formado por Russel Allen (Symphony X) nos vocais, Mike Orlando (solo) nas guitarras, John Moyer (Disturbed) no baixo e a grande surpresa nas baquetas: AJ Pero, do Twsted Sister que parece que quis trocar os ares após muitos anos com o grupo de Hard Rock (que, por declarações recentes de Dee Snider, parece que não gravará músicas inéditas mais).

Com AJ pero (Twisted Sister) (3º da esq. para dir.), banda fica mais cadenciada e direta

A sonoridade, apesar dessa mudança, não sofreu grandes alterações. Porém, é nítido que o disco está mais leve, menos acelerado, mas sem perder a energia e o “groove” característico, sempre auxiliado pelos riffs impressionantes de Orlando e os vocais sujos de Allen, mais agressivos que o seu trabalho no Symphony X.

“The Mob is Back” tenta enganar o ouvinte como faixa de abertura, pois aprece tirada do disco anterior. Uma ótima forma de começar o disco (aqui não dá para sentir falta de Portnoy). Da mesma forma, com muito groove e candidata a hit, “Come On Get Up” tem muita gingada e energia. Foi a faixa que me capturou na primeira audição.

Grupo apostou em várias baladas, com muitas passagens acústicas

Uma das novidades do disco é a presença mais evidente de melodia, incluindo aqui várias “baladas”, músicas mais calmas e belas, sem a força do metal moderno da banda. Falo das belas “Behind These Eyes”, já divulgada antes do lançamento do disco, que remete a “All On the Line” do debut da banda; “Crystal Clear” (show de Allen) e “Fallin' To Pieces” até com um quê Pop Rock, é a faixa mais destoada do disco, mas também uma das melhores, mostrando uma faceta mais leve e menos carregada do grupo. Pode se tornar hit radiofônico sem dificuldades.

Mas o que todo Headbanger quer é música para bater cabeça e o álbum traz algumas que merecem destaque. A principal é “Feel the Adrenaline”, que pode se tornar até um hino pra banda, com um trabalho instrumental bem dosado, na medida certa, e os vocais de Allen bastante carregados. Também pode correr ouvir a faixa-título que, apesar de começar calma, desbanca para uma faixa forte, com melodia e, de certo modo, condensa e resume todas as faixas do disco. Quer saber o que te espera no álbum, ouça “Men of Honor”, a música, e terá uma noção.

AJ Pero mostrou um lado desconhecido, com bastante bumbo duplo, rapidez, mas, claro, sem a técnica e a ousadia do Portnoy. Entretanto, como já comentei, “Men of Honor” perdeu menos com a mudança de formação do que a maioria esperava e, a partir deste trabalho, torna mais coesa a sua existência e finca a certeza: Adrenaline Mob é um conjunto que é mais que a mera soma das partes. Garanta o seu.

Stay on the Road

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação


Formação
Russell Allen (Vocal)
Mike Orlando (Guitarra)
John Moyer (Baixo)
AJ Pero (Bateria)




Tracklist
01. Mob Is Back
02. Come On Get Up
03. Dearly Departed
04. Behind These Eyes
05. Let It Go
06. Feel The Adrenaline
07. Men Of Honor
08. Crystal Clear
09. House Of Lies
10. Judgment Day
11. Fallin’ To Pieces

Ouça "Mob Is Back"


Ouça "Feel the Adrenaline"


Ouça "Come On Get Up"



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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Paulo Schroeber: Bem Tocado, Mas Ainda "Mais do Mesmo"


Mais conhecido pelos seus trabalhos nas bandas Almah e Astafix, o guitarrista Paulo Schroeber lançou em 2011 seu primeiro álbum solo, sob o nome de "Freak Songs".

Produzido pelo próprio guitarrista, temos uma sonoridade que da destaque a sua 7-strings (sim ele toca com uma guitarra de sete cordas), mas que não tira o brilho dos outros instrumentos, e falando nisso, temos no baixo o renomado Felipe Andreoli (Angra) e Rodrigo Zorzi na bateria. A parte gráfica foi feita por Benhur Lima (baixista do Hibria), que fez um bom trabalho, priorizando a simplicidade.


Musicalmente não temos nada de novo, nada que surpreenda, apesar de bem tocado, e de Paulo ser dono de grande técnica, o que ouvimos é a mesma coisa que muitos guitarristas no Brasil vem fazendo (ressalva de alguns que conseguem se diferenciar num meio tão batido), solos rápidos e técnicos, "fritação" constante, sendo difícil citar destaques.

Claro que encontramos influencias de Jazz, Fusion e música clássica, mas nada que saia da zona de conforto da maioria dos lançamentos deste gênero por ai. Então se você procura por algo diferente, "Freak Songs" não é a melhor escolha, mas se você é músico e procura por trabalhos onde a técnica é a predominância, confira sem medo.

Texto/edição: Renato Sanson
Fotos: Divulgação

Ficha Técnica:
Músico: Paulo Schroeber 
Álbum: Freak Songs
Ano: 2011
  
Formação:
Paulo Schroeber (Guitarra)
Felipe Andreoli (Baixo)
Rodrigo Zorzi (Bateria)


Tracklist:
01 Parallel Realities
02 Fast Jazz
03 Give Me a Pill
04 Neoclassical Party
05 Mom's Patience
06 Fusion Headache
07 Rock It
08 To My Father
09 Good Trip
10 Insert Coins
11 Rabbit Soup
12 The Third Wish

Acesse e conheça mais o músico:

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Epica: Revelada Capa do Novo "The Quantum Enigma"



Com previsão de lançamento em apenas 02 de maio (Europa), 05 de maio (Reino Unido) e 06 de maio (Estados Unidos), "The Quantum Enigma" é um dos discos mais aguardados do ano e, para os fãs da banda holandesa Epica, a ansiedade toma conta sobre o sucessor do ótimo "Requiem for the Indifferent" (2012).

Desse modo, a banda havia liberado já o título e uma foto promocional, em alta resolução (acima), trazendo o grupo já no clima do novo disco. Ontem, 15/02, via Instagram, a banda da linda Simone Simons (vocal) liberou a capa do disco e, como era esperado, com uma arte tão bela quanto o talento do grupo.


A banda segue divulgando seu DVD comemorativo de aniversário. "Retrospect" ainda está rendendo frutos para o grupo, sendo um dos DVDs mais aguardados do ano passado e agradando em cheio os fãs.

O guitarrista/vocalista Mark Jansen comentou a expectativa sobre o novo álbum, dizendo que não se cansa de ouvir o novo álbum, pois "soa mais moderno, mas com todos os elementos típicos EPICA dentro. Refrescante pode ser a palavra certa. Este álbum também foi o resultado de um esforço de grupo real. Foi ótimo ver todo mundo ser tão motivados a criar o nosso melhor álbum!

"Mesmo sendo o som mais pesado (as guitarras, baixo e bateria soam tão brutal!), ainda é um álbum muito atraente. Algumas influências antigas do nosso primeiro trabalho, algumas referências a 'Design Your Universe' e alguns novos elementos".

Agora é esperar pela liberação de algum teaser ou mesmo lyric video (30 de abril a abnda faz show de lançamento do novo CD) com alguma faixa do disco e vermos se, de fato, Epica segue numa ascendente para se tornar o maior nome do Metal Sinfônico mundial. Será que com "The Quantum Enigma" isso vai acontecer? Façam suas apostas.

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Entrevista - Torture Squad: Os Anos da Ditadura Militar Pelos Olhos do Power-Trio


Como parte dos 20 anos de existência, a banda Torture Squad vem promovendo a divulgação de seu novo álbum, “Esquadrão de Tortura”, o que marca a estreia da nova formação, agora como power-trio, formado por Amilcar, Castor e André Evaristo.   (READ THE ENGLISH VERSION HERE)

Já que o álbum é totalmente politizado e com letras falando sobre fatos durante a Ditadura Militar, o baterista Amilcar Christófaro atendeu a equipe do Road To Metal pra falar de como surgiu a ideia de fazer um álbum conceitual, além de outros assuntos relacionados com o novo trabalho.

Pra quem não liga muito pra política, é importante ler o que o Amilcar fala no finalzinho da entrevista, o que também foi um aprendizado rápido pra mim.

Road to Metal: Tendo 20 anos de estrada completados, o Torture Squad está vivendo um novo momento lançando o seu mais novo disco de estúdio, "Esquadrão de Tortura". Um marco na carreira, afinal este é o disco que marca estreia da banda como 'power-trio', além de ser o primeiro trabalho conceitual, despertando muita atenção bem antes de lançarem o álbum. Pra começar, como foi trabalhar o disco com apenas três integrantes?

AC: Basicamente é o modo tradicional da gente, que é de muitos ensaios. O André já veio entrando junto com a tradição de ensaios da banda. A gente não mudou absolutamente nada! Foi o André que se incorporou ao nosso método, que é o método tradicional de banda, onde a gente ensaia bastante, compõe e ensaia músicas que a gente toca nos shows. É dai que foi se construindo o nosso novo entrosamento. E com certeza o disco nasceu dessa forma, do jeito tradicional.     

Amilcar Christófaro
RtM: Neste novo álbum, o Torture Squad estreia um trabalho conceitual, abordando tudo o que aconteceu durante o período da Ditadura Militar aqui no Brasil. Escrever um álbum inteiro falando somente sobre esse assunto já vem desde cedo ou teve a influência de alguém que viveu aquela época e que, de alguma forma, achou interessante relatá-la no disco?

AC: A ideia não veio de influência de ninguém. Simplesmente pintou a ideia de falar sobre algo importante que, aliás, tem a ver com o nome da banda. Mas nem o nome do disco, que hoje é "Esquadrão de Tortura", pintou de prima. Foi uma coisa que foi rolando, as ideias foram vindo e escolhemos as melhores. E a ideia de falar sobre a ditadura já veio naturalmente, que já faz um tempo que pintou essa ideia. Nunca tínhamos feito um álbum conceitual. E, principalmente, é muita a primeira vez de muitas coisas nesse disco. A ideia pintou quando a gente ainda estava com a outra formação e, quando o Vitor saiu da banda, a ideia ficou mais enraizada. 

RtM: E especificamente quanto a parte lírica?

AC: As letras, que na época era o Vítor que ia escrever, pintou naturalmente pra gente fazer, principalmente pra mim. E eu curti demais fazer a pesquisa e entender mais sobre o assunto, porque antes eu sabia superficialmente sobre a época da ditadura. Com certeza eu não sei tudo porque são vinte anos de história, tanto que nas onze músicas citamos as partes mais significativas na época que se passou no regime militar. E no encarte fizemos questão de colocar resumos de cada música, porque na música a gente cita uma coisa e no resumo, a pessoa vai entender um pouco mais sobre aquilo que foi citado. E eu fiquei feliz de entender mais sobre o assunto, e de poder ter usado a minha música num assunto importante que aconteceu no nosso país. E fazer com que outras pessoas (pegando o nosso disco, lendo as letras e lendo os resumos), possam entender mais sobre o assunto. Fico feliz com essa possibilidade que a gente está tendo.


RtM: Os discos anteriores da banda, contando com este mais recente, foram escritos e cantados em inglês, óbvio. Mas pela primeira fez, se não me engano, o Torture Squad é a primeira banda de Heavy Metal brasileira que lança um disco com letras inglês com o título em português. Se tratando de um fato histórico que aconteceu aqui no Brasil foi mais convencional em batizar o título do álbum em português do que em inglês?

AC: Eu também não sei se o Torture Squad é a primeira banda que canta em inglês, com o nome inglês e o título do disco em português. Não sei te falar se somos a primeira, mas com certeza é o primeiro da nossa discografia e da nossa carreira, onde todos os discos são com títulos em inglês e esse é o primeiro com o nome em português.

RtM: O "Esquadrão de Tortura" pode ser considerado mais um material pra quem quer estudar sobre a Ditadura Militar?

AC: Essa pergunta é bem legal! Eu considero que sim, o nosso novo disco é um material pra conhecer sobre a época da ditadura, porque fizemos um estudo sério e aprofundado. Pode não ser tão aprofundado quanto outras obras que falam desse assunto, mas com certeza uma pessoa pode conhecer alguma coisa com o disco e se aprofundar sobre o assunto através de algum livro ou em um link da internet. E o álbum serve sim para um estudo sobre o tema. 

RtM: Pesquisar sobre tudo o que aconteceu durante a Ditadura Militar não tem segredo, porque tem vários documentários, livros e reportagens que abordam sobre o tema. E também, é claro, tem vários artigos na internet e de professores de história que dão aula em escolas públicas. E já que eu citei essa parte didática, o professor Alexandre Rossi Carneiro lhe auxiliou sobre o assunto pra ajudar nas composições do disco. Ele foi a melhor escolha pra que tivessem um conhecimento mais a fundo? 

AC: Sobre o Alexandre Rossi posso falar que, pra gente, foi a escolha certa! Pode até ter outras pessoas que entendem mais sobre o assunto, mas ele foi a melhor escolha. E dentre as pessoas que a gente conhecia, ele foi a escolha obvia por ele ser fã da banda há muito tempo e da gente conhecer ele também. Quando o André entrou na banda não sabíamos que ele conhecia o Alexandre, mas ele já era amigo dele há muito tempo também.


RtM: Foi realmente a escolha certa!

AC: Naturalmente foi a melhor escolha que a gente pode ter. Ele montou um texto apontando acontecimentos da época do regime pra lado nenhum, porque esse era o nosso critério. O critério é narrar a história! E não precisa ser de esquerda e nem de direita pra você entender um assunto e formar a sua opinião. E essa é a nossa intenção com o disco, que as pessoas entendam mais sobre o que aconteceu, e que não precisa levantar bandeira de cor nenhuma para ter uma opinião. 

RtM: A capa, que foi desenhada e ilustrada pelo João Duarte, me chamou muita atenção pelos crânios, a cruz, o jornal, a coruja e o Cristo Redentor. Existe algum significado por trás desses cincos elementos postos na arte gráfica do álbum?

AC: Existem todos os significados, essa é a verdade (risos). O Cristo Redentor e o jornal é pra identificar que foi no Brasil. O Cristo Redentor é uma coisa universal, que qualquer um que vê já sabe que é no Brasil, e a gente fez questão de colocar o jornal usando uma expressão francesa falando "Coup D' Etat", que é "Golpe de Estado" em francês. Só que essa expressão é usada no mundo inteiro. Então qualquer pessoa que pegar o disco em qualquer lugar do mundo e ler: "1964 Brazilian - Coup D' Etat",  e ver o Cristo Redentor já vai saber do que o disco se trata, que é um golpe de estado no Brasil. E essas duas imagens foram justamente pra isso, que é pra facilitar a informação.


Os crânios são pra representar os mortos. E as cruzes atrás, se você reparar, tem cruz de tudo quanto é crença, porque naquela época ninguém estava a salvo da repressão e que qualquer um poderia receber.

A coruja, que você citou, que bem que poderia ser, é uma águia (risos). Uma coisa, que aliás muita gente não sabe, foi a influência americana no golpe de estado do Brasil. E teve uma influência muito grande, principalmente com o Lincol Gordon, que era da embaixada americana aqui em São Paulo. Aliás eu tive uma grande referência sobre a influencia americana no golpe em um documentário chamado "O Dia Que Durou 21 Anos", que fala só sobre a influência americana no golpe. E isso era um fato muito importante que não poderia deixar de passar no disco, e colocamos justamente a águia pra representar isso.

RtM: Em se tratando de álbum conceitual e uma banda como o Torture Squad, tudo se encaixou perfeitamente! Até mesmo na data de lançamento vocês foram conceituais, que foi lançado no dia 15 de novembro de 2013, dia da Proclamação da República Brasileira. Isso foi uma maneira de celebrar a data fazendo uma reflexão escutando o disco?

AC: Todo mundo pode levar como quiser! Teve momentos na hora da gravação, quando o disco estava sendo feito, que conversamos com a gravadora em relação ao lançamento, onde a gente se pegava conversando sobre politica por causa do disco. E isso é muito legal, porque dá a oportunidade de quem conhece a banda e dos bangers que, talvez, não liguem muito pra politica. E eu entendo esse lado, porque a minha vida inteira foi pensando na banda e na minha música. 

A gente vai vendo que, naturalmente, temos que aprender um pouco de tudo. E a política, ela está muito inserida na nossa vida! Não podemos ficar vivendo e fazer de conta que a política não existe, porque tem que entender o que está acontecendo, até pra melhorar o que tem por vir. E dando a possibilidade com o nosso disco, eu fico extremamente feliz. Lançamos no dia da Proclamação da República foi por querer mesmo, que é uma data simbólica no país e do disco ter essa temática política. E eu acho que a data se encaixou com o lançamento.


RtM: Falando sobre a sonoridade do disco, a banda sempre seguiu uma linha Thrash Metal e Death Metal. Mas depois que o Vitor saiu e o André se tornou vocal, as novas músicas ficaram Thrash Metal e Heavy Metal, dividido no meio. Essas variações foram para deixar o André mais a vontade pra poder cantar?

AC: Não, porque a gente não compôs para o vocal dele. Na verdade isso é até normal fazer, mas só que as músicas já estavam sendo feitas e pintou dele cantar. Então ele foi meio que adaptando ao que a música é. E pra te falar a real, ele foi muito guerreiro! Daqui pra frente, talvez, até role dele se ligar que está fazendo um riff, que não está casando com a voz, ou que ele vai encaixar a voz de uma outra forma, porque o riff está sendo feito de uma outra forma. Mas, no disco, não teve esse pensamento. O disco foi ele colocar o vocal em cima e aprender a fazer. 

Então foi um desafio que ele adquiriu e foi dessa forma. Tem música mais cadenciada e tem música que é mais Thrash que não foi proposital por causa da voz dele ou porque ele está cantando e tocando, foi porque rolou naturalmente, mesmo. Eu estou muito feliz com a voz dele, que é um Thrash Metal rasgado, e a voz do Castor é um Death Metal old school. Então a gente tem o Death e o Thrash na voz, conseguimos trabalhar bem isso no primeiro disco com essas duas vozes. E, com certeza, eu acredito que dá até pra trabalhar mais, o que vai fazer crescer o entrosamento em relação a isso.

RtM: Neste novo disco existem várias participações, como a Sphaera Rock Orquestra, Rafael Augusto Lopes (ex-guitarrista da banda), Fernanda Lira (Nervosa), Paulinho Sorriso e Dino Verdade. Mas a participação que eu mais gostei foi a do João Gordo (Ratos de Porão), cantando a faixa "Pátria Livre". Como foi reunir todo esse pessoal pra participar do álbum?

AC: Antes de o João Gordo ser convidado, a música já estava feita. No começo ela tinha letra e tudo, mas depois ela passou a ser instrumental, até que chegou a ideia da gente colocar só uma estrofe numa hora, que é a parte mais Hardcore da música. E sempre que toquei essa música, eu levava como uma singela homenagem ao Ratos de Porão por ser Hardcore. E nessa parte entrou uma estrofe de uma carta que o Carlos Marighella mandou ao ex-partido dele, porque ele tinha ideias mais radicais em relação do combate do regime militar.

João Gordo, vocalista do lendário Ratos de Porão
E aí foi passando o tempo e pensamos: "E se a gente chamasse o João? Ia ser animal!", até que eu liguei pra ele, ele aceitou e ficamos que nem uns moleques, loucos e felizes da vida, porque no Ratos de Porão estão alguns dos nossos heróis! Sepultura, Krisiun e Korzus, também são bandas que fizeram história pra gente, porque elas representam muito. E só pra terminar sobre o João, acho que caiu como uma luva mesmo. É um momento de protesto na letra, e ele cantando, como sempre fez com o Ratos, caiu como uma luva, principalmente nessa época que é o Hardcore da música, onde que eu sempre pensei no Ratos de Porão. E foi impressionante ele cantando nessa parte, que foi muito especial.

RtM: E quanto as outras participações?

AC: As outras participações rolaram naturalmente. Tem uma música no disco, chamada "Architecture Of Pain", que tem um momento que fica baixo e batera, que me remeteu muito a música latina. E ai eu pensei em colocar instrumentos de música lática, com o Ganza, Queixada e até o Meia Lua, mas só que numa mix bem baixa só pra dar um molho, o que não descaracteriza em nada. E ao em vez de eu gravar, eu pensei... 'Por quê eu gravar se eu posso chamar alguns amigos que são batera e que poderiam participar do disco'? E foi isso que eu pensei. E aí que chamei o Paulinho Sorriso, que é um batera de samba-rock, e que temos um grande contato com a Orion Cymbals. O Dino Verdade eu tenho um grande contato com ele, admiro como batera e como empreendedor, porque ele é o dono do "Bateras Beat".

A ideia da Sphaera Rock Orquestra, de fazer o quarteto de cordas, só foi de fazer um tchello e um violino na "Conspiracy Of Silence", que é uma parte mais Death Metal, onde que eu imaginei essas cordas junto com o riff. E no final eles compuseram pra um quarteto e ficou animal! Foram dois violinos, uma viola e um violoncelo. Eles gravaram pra "Conspiracy Of Silence" e "For The Countless Dead", que é uma música instrumental e uma das partes mais importantes do disco, onde a gente deixa uma pergunta nor ar, de falar que teve esse lado e teve outro. Mas como o preço não é muito alto, o que quê você acha? Então pra quem escuta o disco e pra quem lê as letras é pra ter a opinião própria.

Fernanda Lira (ao centro) da Nervosa, também teve participação destacada no álbum
RtM: E a participação da Fernanda, da Nervosa, e do Rafael, ex-guitarrista do Torture?

AC:A Fernanda da Nervosa gravou uma narração na "For The Countless Dead", que eu acho a mais importante do disco, como acabei de falar. Tem uma narração em inglês e outra em português, quem gravou a em português foi o Tommy Moriello, da Crash Bang, e que também trabalha pra gente. A inglês foi a Fernanda Lira, da Nervosa, que também gravou os vocais para uma música do Coroner, a "Divene Step". Aliás a gente tem 11 músicas no disco, mas a gente gravou 17 e que sobrou seis pra ir trabalhando aos poucos.

E tem a participação do Rafael, que eu achei genial. Foi o Castor que teve a ideia dele fazer o solo na "Wardance", que na verdade é um solo que a gente compôs junto na época que ele estava na banda. O solo é a composição dele, mas o riff e a base a gente compôs junto. E a gente achou demais ele estar no disco tocando com uma melodia que ele mesmo compôs.

As participações foram muito especiais! Ficamos muito contentes de ter todo mundo no disco, algo que a gente guardará com muito carinho.

RtM: A produção mais uma vez foi assinada pelo Brendan Duffey e o Adriano Daga no Norcal Studio. Hoje o Norcal sendo um dos melhores estúdios que se tem pra gravar, e com bastante banda boa saindo de lá com ótimos discos, se tornou a melhor opção para gravar o novo disco?

AC: Eu acredito que sim, porque com certeza eles são um dos melhores produtores de Heavy Metal que tem aqui no Brasil. O Brasil está começando a ficar com muitos peritos e muitos produtores que já sabem do que se trata o Heavy Metal, o que no passado, talvez não muito distante não tivesse, mas hoje tem. Tem o Pompeu e o Heros no Mr. Som, o Ciero na Tribos... São produtores que trabalham com esse tipo de som há muito tempo, que sabem a linguagem e que sabem do que se está falando.

E o Brendan e o Adriano com certeza são bem fortes no quesito produção de Heavy Metal. E a gente está bem feliz com o resultado final do disco, porque ele é muito verdadeiro com o som que eu consegui na batera e do som que a gente pegou na guitarra. E quando digo verdadeiro, todos os nossos discos são, mas eu acho que esse consegue passar realmente o som que sai do ensaio, pra passar para a gravação do disco.


RtM: Ano passado você recebeu o convite de fazer participação do novo DVD do Angra, o "Angels Cry - 20th Anniversary Tour", executando a música "Evil Warning". O registro também teve participações da Tarja Turunen, Uli John Roth e do pessoal do Família Lima. Agrega-te muito esses convites que são feitos pra você, como também foi com o Sepultura em 2011?

AC: Com certeza, porque a gente está falando de bandas monstruosas. O Sepultura, não tem o que falar! O Angra também é gigantesco no que eles fazem. Eles têm uma gama de fãs nervosíssima! Talvez muitos fãs de Metal melódico que não conheciam o Death e o Thrash do Torture Squad, o DVD fez chegar o som da banda até eles. 

E com certeza agrega muito! E pra mim agrega em vários segmentos, como por exemplo, eu tive o prazer de ser chamado pra gravar um cover do "Brutal Truth", do CD novo do Oligarquia, que é uma banda contemporrânea e que está no underground a mais de 20 anos. Eles vão fazer um disco só de covers pra demonstrar as influências da banda. E em todos os lados agrega, porque o nome da minha banda está chegando a lugares que talvez não chegasse. E eu fico muito feliz com os convites.

RtM: Falando mais uma vez sobre o novo álbum, como você compara o "Esquadrão de Tortura" com a realidade atual de hoje?

AC: Na última música fizemos a questão de finalizar a história da ditadura, que acabou em 1985, mas foi em 1988 que promulgou a norma constitucional, que no papel e pelas leis tinha acabado a Ditadura Militar. A democracia na verdade tinha voltado, o que se torna uma interrogação. A eleição que veio após a ditadura foi a do Collor e do Lula, onde tinha o lance da Rede Globo se infiltrando nos debates e que, isso, foi comprovado. Tentaram manipular a cabeça do povo dizendo que o Collor era o melhor. Mas esse nepotismo continua na política, com os filhos, com a família Sarney, com o ACM... Ou seja, a ditadura acabou, mas talvez ela continue de outra forma. Não digo em relação à repressão, mas eu digo com aquele jeito antigo de se pensar. 


Não digo que a ditadura teve isso, mas eu acho o que pegou mesmo naquela época foi o lance da repressão e do golpe, dizendo que o João Goulart era um comunista e tal. Era uma coisa que nasceu errada e que só podiam acontecer coisas erradas, essa é a visão que eu tenho. E hoje, mesmo com a democracia, eu acho que rola muita picaretagem com essa coisa do querer ganhar mais e de passar por valores normais pro ser humano, que é a coisa de você ser honesto e de ganhar o que é seu por direito. Mesmo estando o pote de ouro no seu lado e não é seu você não tem que pegar, porque é de alguém. Mas eu não sei... O Brasil sempre vive essa coisa do jeitinho brasileiro, dessa coisa de dar-se um jeito e da coisa do que eu possa dar uma melhorada aqui. E isso enche o saco! E é muito revoltante, porque é isso que não deixa o país ir pra frente.

RtM: O famoso jeitinho e aquela ideia de sempre tirar uma vantagem em tudo!

AC: E é exatamente essa cabeça que tem na política hoje. E isso um dia tem que mudar! E eu acredito muito nas pessoas do bem, junto com as novas gerações, com a criançada que está sendo educada pelos próprios pais, que já sabem o que precisa pra que mude isso, que já as eduquem hoje para que, quando chegar lá e tiver o poder nas mãos, já saber o que fazer. E eu acho que acabou aquela repreensão duríssima que tinha na ditatura. Pode ter uma repressão ainda, mas talvez não seja com tanto afinco quanto antes. Só esse lance da política já me perturba de uma forma muito grande. Eu acredito que isso está me influenciando tanto que, as músicas do próximo disco, virão mais politizadas. E com certeza o próximo disco vai vir uma coisa de a gente falar realmente o que a gente acha hoje, com as letras mais realistas. 

O gaúcho João Goulart (conhecido popularmente como "Jango"), 24º presidente
Nós que somos do bem e fazemos as coisas na honestidade, toda notícia de político é 99% de pilantragem. Você não tem em quem confiar! E vendo as entrevistas do João Goulart no Youtube, eu sinto uma verdade no olhar dele que eu não sinto nos políticos de hoje. E independente de bandeira e de cor, não tem mais essa de partido! Tem que ter honestidade e hombridade, porque você tem que ver o valor na pessoa, mesmo. E quando eu via as entrevistas do João Goulart, eu senti uma verdade muito grande no que ele falava. É claro que eu não vivi a época, às vezes as pessoas que me vêem falando acham que estou errado, mas eu estou falando do feedback que eu tive de tudo o que eu vi. 

RtM: Depende do ponto de vista e até o grau de conhecimento de cada um sobre o assunto, penso eu.

AC: Eu não vi mentira, eu vi um cara simples querendo o bem pro país. E via com honestidade no olhar, que é uma coisa que eu não vejo nos políticos de hoje. Às vezes o pessoal fica esperando acontecer alguma coisa pior, do tipo começar a matarem uns políticos e jogar nas valas e neguinho começar a perceber que está ficando feio pra quem mata, rouba e para quem não está nem ai pro povo. E o povo precisa mesmo acordar, de um jeito, que o país ainda não viu. E uma coisa dura tem que acontecer pra todos, que é pra coisa recomeçar de um jeito que fique tudo bem.


RtM: Para encerrar, quais são os planos do Torture Squad para esse ano de 2014? Pode pintar um DVD ou CD ao vivo?

AC: Pode sim, principalmente no final da turnê do disco. Não sabemos onde e não sabemos quando ainda, o que a gente sabe é que queremos gravar um DVD mais pro final, mesmo. Não digo que no final do ano ou começo do ano que vem, mas como a gente já tem tocado bastantes músicas, queremos pegar a banda ainda mais quente. E vamos tocar o máximo que puder pra divulgar o disco, já temos planos pra fazermos uma turnê aqui no Brasil, que a Agencia Sob Controle vai marcar tudo pra gente. Estamos tentando pra fazer essa tour antes da Copa, porque com certeza vai parar tudo. E depois da Copa, ou durante, temos planos da gente também ir pra Europa. E tudo isso está sendo trabalhado. Enquanto isso, estamos fazendo nossos shows esporádicos, mesmo.

RtM: Muito obrigado pela entrevista! Deixo o espaço liberado pra você dizer qualquer coisa para os leitores.

AC: Um grande abraço para todos os bangers que acompanham o Road To Metal! Foi um prazer essa conversa com vocês. E força para as bandas brasileiras e pra cena Metal brasileira. 

Entrevista: Gabriel Arruda
Revisão/edição: Carlos Garcia/Eduardo Cadore
Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal da Banda
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