terça-feira, 5 de maio de 2015

Bloody Violence: Soando Como Uma Bomba Atômica!


Eis que o “full length” da banda Bloody Violence está calibrado e pronto para abrir fogo sem dó nem piedade. O trabalho recém-lançado foi batizado de “Devine Vermifuge”, trata-se de um álbum contendo oito faixas inéditas e nem bem esperou o EP “Obliterate” esfriar no caixão para dar as caras (curiosidade: pela definição da UK Albums Chart *: uma gravação conta como um álbum full length se ela tiver mais de quatro faixas ou pelo menos 25 minutos de duração). Uma verdadeira profusão de musicalidade, velocidade, técnica e groove (sim, groove).

Now I’m become death, the destroyer of worlds…
- Bhagavad Gita

A mesma frase citada nos ensinamentos hindus abre o “Divine Vermifuge”, porém dessa vez pronunciado por “J. Robert Oppenheimer”, um dos físicos que coordenou o “Projeto Manhatan”, em 1941. Oppenheimer ficou conhecido como: O pai da Bomba Atômica! E a citação que abre o disco sonoriza dor, pesar e arrependimento de quem viu sua criação servir à destruição.

Seleção (não) Natural

Neste clima denso e escuro as primeiras faixas do disco ilustram em notas e viradas, o quão pesado ele tem a intenção de ser (e cumpre perfeitamente com a proposta). Ainda não estamos falando das melodias!


Natural Selection developing new kinds of mutated species...” – (1- Lethal Nuclear Evil)

Cantídio Fontes (vocal) replica esse padrão amargo e pesado nas letras que compõem as oito músicas do disco. O que é mais letal de que uma bomba atômica, de alguns “mil megatons” explodindo sobre uma área povoada? Resposta: A ganância pelo poder, ganância pelo controle (do poder)! Embora as letras do disco disponham sobre mutações, explosões nucleares, destruição em massa, omissões e traições. Fica fácil transportar questões comportamentais, sociais e políticas para esse ambiente orquestrado pelo Technical Death Metal de “Divine Vermifuge”. Para deter tamanha injustiça desenfreada, vale apelar até para uma Dakini e que sua furiosa beleza possa lançar o desafio da justa punição aos impuros (se ela escutar o apelo, poucos irão sobrar)!


Se Simão falou, está falado.

Completando a beleza do que foi riscado no papel, existe o encaixe perfeito das melodias paridas por Igor Dornelles. Delegar palavras como pesado, rápido e brutal ao disco, seria como atear fogo às cinzas de um “disco voador” que caiu ao solo e incendiou no impacto (ainda que exista o que queimar nessa carcaça). Fica nítida a impressão de que houve preocupação uniforme durante as composições e mixagem de som. A bateria de Eduardo Polidori está muito bem marcada e traz um “gingado” diferenciado do Technical Death Metal tradicional. Claro, o que precisava ser feito, foi feito com sucesso. Mas ao ouvir, sentirás que há algo mais durante as execuções. Em alguns momentos exibe rapidez de um UFO em disparada no horizonte e em outros momentos a técnica e calma de um metódico serial killer em ação. Essa técnica pessoal, provavelmente nos deixe algumas pistas sobre um baterista de Death Metal que já visitou “outras escolas”, mas que está se saindo muito bem no estilo atual. Igor Dornelles, além de compor as melodias do disco, pilota uma “eight strings” com maestria. Isso fica claro no disco todo, mas é em “Putrid and Damned” que desde a intro até o último suspiro essa maestria não deixa nenhum questionamento em aberto: harmonia e agressividade, somadas à violência que o disco demanda.


E com esse cuidado que foi acometido ao disco, na hora de mixar, permite-nos ter acesso ao “Sava” e o seu baixo a qualquer instante no disco. Mas se quiser tirar a prova do que digo, basta prestar atenção no início da “The Faithmaker”, música que encerra MUITO BEM o álbum.

 Compassada, pesada e polêmica ela vem impregnada de um groove que a transforma totalmente após os 2 minutos. Junto com música (a esta altura já deves estar com o punho em riste e bangueando) surge um “sampler” fantasmagórico com voz feminina, que faz alegorias à chamados de abuso sexual. Na realidade, trata-se de um recorte de fala, de um documentário sobre “abuso sexual envolvendo ambientes religiosos” e de como a crença é usada de forma erronia (dentre muitas outras formas) por alguns líderes de cultos, para lograrem alguma vantagem sexual sobre os (as) fiéis.


Penetrate me with this finger, the finger of god...
-The Faithmaker

Mesmo com toda essa nova influência musical, não se pode deixar passar despercebida a influência dos mestres do passado (nem tão passado assim) nas composições: Cannibal Corpse, Dying Fetus e Nile!

Encerrando essa obra obscura, aparece a mão do Rafael Tavares na confecção da capa do disco. Como já é conhecido pelo estilo, Rafael se vale mais uma vez dessa brincadeira entre luzes e escuridão para compor a arte da capa. Boa parte da “cover” e é envolvida em escuridão, ao centro uma “entidade” (que se atribui santidade pelo fato de apresentar uma espécie de auréola em torno da cabeça) emanando tentáculo de si. Ao fundo há uma vegetação morta exibindo grandes espinhos e alguns humanoides cadavéricos espreitam a entidade. Seriam vítimas ou seguidores? De fato, a entidade, de olhos pálidos, traz um crânio nas mãos, lembra um crânio humano. Seria essa entidade o “Devine Vermifuge”? Não seria uma má ideia se um anti-helmíntico social e psicológico se abatesse sobre a sociedade em nível atômico, ao melhor estilo Bloody Violence.


Resenha por: Uillian Vargas
Revisão/edição: Renato Sanson


Formação:
Cantídio Fontes – Vocal e Letras;
Igor Dornelles – Guitarra (8 cordas) e composição das músicas;
Israel Savaris – Baixo;
Eduardo Polidori – Bateria;

Tracklist:
1 Letahl Nuclear Evil – 05:29
2 Lethal Nuclear Evil [Dyatlov Pass] – 06:49
3 Mother of the Dying – 03:59
4 Putrid and Damned – 04:00
5 Sky Burial – 05:12
6 Colares UFO Flap – 04:23
7 Overseers – 03:41
8 The Faithmaker 04:33

Embalagem: Digipack
Fotos: Chama Vídeos Independentes e Marina Bischof
Gravação: Estúdio Hurricane, POA-RS
Arte Capa: Rafael Tavares

Selos: Terceiro Mundo Chaos Discos, Rock Animal, Violent Records & Oneye Rec .


Ou entra no face da banda e fala direto com eles e tenta uma versão autografada!



Nenhum comentário: