quinta-feira, 4 de junho de 2015

Whitesnake - "The Purple Album": Homenagem Necessária?




Muitos filhos já devem ter recebido a orientação do pai e da mãe o seguinte ditado: “não mexa com o que está quieto.” Essa lição não foi assimilada por muitas das grandes bandas de Heavy Metal e Hard Rock, entre elas, podemos citar o Manowar, Twisted Sister, Exodus, Testament, Anthrax, Scorpions, Alice Cooper, Aerosmith e, o mais recente, Uli Jon Roth, que foram mexer onde não deviam. Bandas essas que tiveram a desnecessária ideia de mexer em clássicos "imexíveis". E quem entrou nessa jogatina é o Whitesnake, com o recém-lançado “The Purple Album”, contendo releituras da fase MK III e MK IV do Deep Purple. 


A ideia de homenagear aquela clássica formação não é recente. Há cerca de 3 anos atrás, David Coverdale queria reunir todos que fizeram parte daquele momento para celebrar o que seriam os 40 anos da respectiva fase, convidando o guitarrista Ritchie Blackmore, o baterista Ian Paice e o saudoso senhor dos teclados, Jon Lord. Mas devido à morte de Lord, que sofria de câncer no pâncreas, e pelo desinteresse de Blackmore, que não chegou a dar satisfação nenhuma, o que já é normal vindo dele, a única saída para Coverdale era fazer isso com os seus companheiros de banda, apresentando o projeto para cada um, recebendo aprovação imediata. Afinal, quem é que não quer se divertir tocando essas grandes obras? E recapitulando o que foi o começo disso tudo, porque o Coverdale não convidou o Glenn Hughes?

No que se refere a produção sonora e instrumental, comandado pelos excelentes músicos Reb Beach e o novato Joel Hoekstra (guitarras), que vem substituindo Doug Aldrich, o qual deixou a banda no ano passado; Michel Devin (baixo) e a volta do baterista Tommy Aldridge em estúdio, o disco segue o mesmo distrito dos dois últimos lançamentos inéditos da serpente: riffs de guitarra pulsantes, baixo fazendo muito bem a cozinha com a bateria, soando redondamente altos, mas o pensamento que fica é o seguinte: “David Coverdale, na casa dos seus 63 anos, ainda é capaz de cantar todos esses clássicos (ao vivo) em alto nível?” Quem nunca escutou o “Burn”, “Stormbringer”, ambos lançados em 1974, “Come Taste The Band” (1975) e pegar o “The Purple Album” pra ouvir, é claro que a pessoa irá adorar em questão de instantes, mas pra quem já tem afinidade com as versões originais, a diferença "salta aos ouvidos", pois naqueles tempos o Coverdale tinha cerca de 20 poucos anos.


O disco inicia já com a tradicional carne de vaca, “Burn”. Até ai sem muitos comentários, já que ela é constantemente tocada nos show do Whitesnake; em “You Fool No One” as mudanças começam a aparecer. Ao invés de começar com batidas de latas, é iniciado exorbitantemente a sons de gaita, ganhando destaque o trabalho de guitarras do Reb Beach e Joel Hoekstra (Night Ranger, Rock Of Ages, Trans-Siberian Orchestra), com riffs encorpados e solos mais obscuros, não deixando fugir do virtuosismo dos dois, mas só que tudo dentro do padrão Whitesnake; “Love Child”, no meu ponto de vista, é a que se saiu melhor. Os vocais estão mais aprimorados do que se encontra na versão original, trocando o solo de sintetizador por um solo matador de guitarra; “Sail Way” mantém a mesma proporção vocal suave e aprazível, excluindo toda a parte elétrica para recriá-la uma curta versão acústica. 


“The Gypsy”, outra que me agradou bastante, enfatiza riffs mais pesados, dando mais vida, sendo que ficou um pouco escondida na versão original, e no baixo Michael Devin colocou mais grooves e contornos, e também foi incluído um solo mais estendido; “Lady Double Dealer” inicia com uma destruidora virada de bateria do Tommy Aldrige, com Coverdale optando em cantar com mais drives e vibrato, mas que, devido a sua condição vocal, ele conta com o auxilio dos seus companheiros fazendo os backings vocals no refrão; “Mistread” não há muitas diferenças, apenas ganha riffs e vocais intransigentes, e mais uma vez o que se sobressai são as ótimas linhas de baixo. 




“Holy Man” talvez seja a mais mediana, sem muito que ser apontado. A única surpresa é que há contrapontos, havendo uma melodia acústica para casar-se com os riffs ganchudos da dupla Reb Beach e Joel Hoekstra. E sobre a atuação do Mr. Coverdale (música originalmente cantada por Glenn Hughes), não há muito que destacar; “Might Just Take Your Life” percebe-se que Coverdale se sente mais a vontade, principalmente naquelas faixas originalmente com os seus vocais principais (na época os vocais eram divididos com Hughes). O começo Blues-Rock, executado por um dobro, foi um sacada inteligente da banda, mas fez falta o som de hammond no final da música; “You Keep On Moving” dá pra notar que foi reinventada com certa pressa. Em que questão de segundos já iniciam os primeiros versos do dueto, passando o que tem que passar de maneira reduzida, com as guitarras ecoando fortes. 


“Soldier Of Fortune” novamente reprisa a tendência de reeditar baladas para versões acústicas, dando descanso à bateria e às partes elétricas; “Lay Down Stay Down” inicia com complexos dedilhados, e a incerteza que muitos têm sobre o Coverdale está aqui: vocal muito forçado e não alcançando as notas que outrora conseguia chegar. Os solos são bem trabalhados, havendo comunicação com a voz; e o disco se encerra com “Stormbringer”, outra que não há o que declarar, nem preciso citar motivos.

Toda obra prima deve ser louvada com extrema pureza e prazer, mas mexer no que já é sagrado é uma coisa que deve-se pensar duas vezes antes de fazer.  

Vamos ver como isso vai ser ao vivo.



Texto: Gabriel Arruda
Edição/revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação

Ficha Técnica
Banda: Whitesnake
Álbum: The Purple Album
Ano: 2015
Estilo: Hard Rock
País: Inglaterra
Selo: Frontiers Records

Formação
David Coverdale (vocal)
Reb Beach (guitarra)
Joel Hoekstra (guitarra)
Michael Devin (baixo)
Tommy Aldridge (bateria) 






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