quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Cobertura de show - Matanza: Não resista ao chamado do bar! (12/07/15 - Bar Opinião, POA/RS)


Dia 12 de julho, Porto Alegre. Uma noite quente para os padrões do inverno gaúcho. Noite de novamente conferir uma apresentação dos cariocas do Matanza, que desta vez desembarcaram no Rio Grande do Sul com o intuito de apresentar o seu mais novo, e excelente, trabalho "Pior Cenário Possível". Grande parte do público ainda permanecia na rua aproveitando o bom tempo para confraternizar e tomar uma cerveja, quando a casa de shows começou a aquecer os já presentes com clássicos do rock/metal no telão. Legal comprovar que mesmo que seja pelo telão, uma apresentação do Black Sabbath, AC/DC ou Pantera conseguem animar os ímpetos do público que abruptamente mudou de atitude, e começou a se comportar como se o show de fato já tivesse começado.

Pontualmente as 20:00, sem tempo para apresentações, sobe ao palco a banda de abertura Motor City Madness. Sinceramente, não conhecia a banda e acredito que a maior parte dos presentes também não. Consegui perceber que nos primeiros momentos todos estavam atentos, tentando assimilar o som que emanava dos alto-falantes, e conforme o tempo de show foi passando, algumas conversas paralelas revelavam um misto de surpresa e interesse crescente pela grupo. Com um som que lembra o Stray Cats mordido por zumbis fazendo um cover de R.A.M.O.N.E.S. do Motörhead, a agressão começou e não parou mais.


A banda desfilou músicas dos seus dois discos, o autointitulado "Motor City Madness" e "Dead City Riot". O som direto não era intercalado por pausas, conversas com a plateia ou covers para ganhar a simpatia dos presentes. A banda ligou os amplificadores e desceu a mão, e dessa forma foi conquistando cada vez mais o público, que já agitava bastante com a enérgica apresentação. O Motor City Madness mostrou bastante profissionalismo, um bom entrosamento e principalmente destilou ótimos timbres de guitarra alimentados pelos seus amplificadores "Bulldog".

O guitarrista Fabian Steinert tocava com um instrumento semiacústico, e apesar do tipo de música "na cara" que a banda faz, o seu som em nenhum momento embolava com os outros instrumentos. Os seus solos permeados de clichês de rock aliados ao uso do pedal Wah Wah, mostram que a banda não bebeu só em fontes punk-rock/horror-punk/hardcore. Derrubando qualquer possível rótulo pré-concebido, estávamos todos assistindo um belo show de rock'n'roll! O único momento de interação foi quando o vocalista Sergio Caldas literalmente lançou discos para a plateia e agradeceu a presença e apoio de todos. Disse que sabe da dificuldade de ser banda de abertura, e que assim como todos, eles também estavam lá para ver a atração principal da noite, o Matanza. Pois não seria nenhum motivo de espanto se em breve, muitas bandas repitam o mesmo discurso antes de um show do Motor City Madness.


Setlist - Motor City Madness

Ms. Dynamite
(We Are the) Outlaws
Schizoid
Dancing With the Devil
Dead City Riot
Strong as a Rat
Dead Man's Hand
The Hunter
One Way Ride
Night Rider
Shamänco
Rope-a-Dope
New Order: Disorder


Poucos minutos depois das 21:00, o sistema de som solta a "intro" que mais parece ter sido tirada de um filme do Sergio Leone ou de uma propaganda de Marlboro. O Matanza sobe ao palco, e o público que a esta altura já era completo, se espremia próximo ao palco para ver de perto os cariocas. O show começa com "O Chamado do Bar" e os presentes cantam o refrão a plenos pulmões quase como uma provocação para quem ficou em casa esperando, amargamente, pela chegada da segunda-feira.

Como uma locomotiva desgovernada o show seguiu em frente com "Meio Psicopata", "Country Core Funeral" e o "Último Bar". A descarga de energia que permeia o ar em todo o início de show do Matanza é notável, e conforme a pressão arterial foi voltando ao normal, alguns detalhes puderam ser avaliados de forma mais eficiente. A primeira delas foi a presença do novo baixista, Don Escobar. Se por um lado Don Escobar demonstrou uma atitude um pouco mais tímida e concentrada, ainda mais se comparado ao antigo baixista China, o seu entrosamento com o resto da banda é notável. As músicas do Matanza apesar de simples exigem um forte comprometimento de quem se arrisca a executá-las ao vivo, e talvez isso explique o "excesso" de concentração de Don Escobar nesses primeiros momentos do show. O ponto negativo se deu por conta do volume baixo da guitarra do Maurício Nogueira.


Quem já assistiu a algum show do Matanza sabe que uma das características mais importantes, desde o tempo em que o Donida era o responsável pelas guitarras, é justamente o som com um volume exageradamente alto saindo dos amplificadores. Mas com ou sem problemas técnicos, o show, a banda e muito menos o público no mosh pit (ou roda punk) podem parar, e a sequência ficou por conta de "Tudo Errado" e "Eu Não Gosto de Ninguém". Dessa vez o problema não foi apenas no som da guitarra (que continuava baixa), pois a bateria sumiu do som dos PAs e o público teve a oportunidade de presenciar por alguns instantes um show do Matanza no formato baixo/vocal. Se alguém ainda duvidava da capacidade de Don Escobar, mudou de ideia nesse momento.

O som dos alto-falantes continuou oscilante, e seguiu assim durante a execução de "A Sua Assinatura", prejudicando a análise da primeira música inédita da noite. O momento não poderia ser mais oportuno para a primeira pausa. Enquanto Jimmy vociferava o já tradicional “PUTA QUE PARIU PORTO ALEGRE”, e interagia com o público, Maurício Nogueira tratava de rapidamente reafinar a sua guitarra Flying V modelo Kerry King. Era hora de tocar "Pé na Porta e Soco na Cara". Essa música que já se tornou um clássico na discografia do Matanza, contou com a participação em uníssono dos presentes, que não diminuíram a empolgação em "Imbecil" e "O Que Está Feito, Está Feito". A segunda música inédita da noite foi muito bem recebida, e sem perder o embalo, Nogueira puxa um dos riffs mais legais da carreira da banda: seja bem vindo ao "Clube dos Canalhas". A casa de máquinas, que também atende pelo nome Jonas, volta então à potência máxima com "Ela Não me Perdoou", "Orgulho e Cinismo", "Remédios Demais" e "Mesa de Saloon".


Tempo para recuperar o fôlego, pois era o momento da segunda pausa da noite. Nogueira mais uma vez afina a sua guitarra, enquanto Jimmy protagoniza o momento mais insólito do show quando, canta um trecho de Menina Veneno, sucesso do Ritchie e uma introdução "sui generis" para "Mulher Diabo". E foi justamente nessa música que pela primeira vez na noite a guitarra de Maurício Nogueira estava no volume (excessivo!) ideal para um show do Matanza. E que maravilha explodir os tímpanos ao som de "Carvão, Enxofre e Salitre". Apesar de se tratarem dos componentes da pólvora, essa música ao vivo funciona como nitroglicerina. Nova pausa para reafinação da guitarra, e somos presenteados com outra música nova.

"Casa em Frente ao Cemitério" é introduzida como a música mais sinistra da carreira do Matanza, e o seu andamento arrastado apenas nos confirma que já faz alguns anos que a banda tem se afastado do rótulo de country-core (estilo mais explícito no início da carreira). Mesmo que o hardcore e o country continuem sendo uma influência, cada vez mais o grupo tem flertado com o metal. Outra mudança (para melhor) são as suas letras, que se por um lado perderam a temática “western”, parece que ficaram ainda mais politicamente incorretas. E por falar em politicamente incorreto, a banda executa "Bom é Quando Faz Mal" e nos deixa com saudades de uma época em que a única luminosidade vinda da plateia durante um show de rock era relacionada a cigarros ou assemelhados.  "Pane nos Quatro Motores", "Matadouro 18", "Ressaca Sem Fim" e "Tempo Ruim" fecham o bloco, com Jimmy praticamente se desculpando por terem tocado uma música tão "amorosa".


Desculpas à parte, a música com a mensagem mais positiva da carreira do Matanza é muito bem recebida pelo público. Aliás, um grande elogio que pode ser feito ao Matanza, é que de forma geral as suas músicas funcionam muito bem ao vivo. Se encaminhando para o final do show, Jimmy pede a Maurício Nogueira que ele toque um hardcore radical. A resposta vem na forma de "Todo o Ódio de Jack Bufallo Head". "Rio de Whisky", "Ela Roubou meu Caminhão" e "A Arte do Insulto" fecham com chave de ouro um show com vinte e sete músicas executadas em pouco mais de uma hora e meia, que deixou os presentes sem voz, exaustos, com dores no corpo, mas com um sorriso no rosto esperando pela segunda-feira. Na próxima vez que o Matanza tocar na sua cidade, não resista ao chamado do bar!


Cobertura por: Samyr Ismail
Fotos: Uillian Vargas
Revisão/edição: Renato Sanson

Setlist - Matanza

O Chamado do Bar
Meio Psicopata
Country Core Funeral
O Último Bar
Tudo Errado
Eu Não Gosto de Ninguém
A Sua Assinatura
Pé na Porta e Soco na Cara
Imbecil
O Que Está Feito, Está Feito
Clube dos Canalhas
Ela Não me Perdoou
Orgulho e Cinismo
Remédios Demais
Mesa de Saloon
Mulher Diabo
Carvão, Enxofre e Salitre
Casa em Frente ao Cemitério
Bom é Quando Faz Mal
Pane nos Quatro Motores
Matadouro 18
Ressaca Sem Fim
Tempo Ruim
Todo Ódio da Vingança de Jack Buffallo Head
Rio de Whisky
Ela Roubou meu Caminhão
A Arte do Insulto

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