quarta-feira, 19 de agosto de 2015

In Torment: Extremismo Ousado



Quem ainda pensa que o “underground” é um termo recente, não parou para observar o distante passado glorioso das décadas vindouras e, tão pouco, desvendar as árduas trajetórias dos grandes nomes do Metal nacional, que nos dias de hoje carregam, o que foi conquistado com muito suor, status de ‘lenda’, despontando todo seu trabalho para diversos cantos do globo. 

O nome, para a minoria, é traduzido como algo pejorativo, mas para as bandas que estão na luta para achar um lugar ao sol, com o advento da internet e de tantos outros meios afins (assessorias de imprensa, por exemplo), é o percurso convencional para o alicerce perfeito de um futuro brilhante. A caminhada é longa, claro, mas que agrega grandes resultados. Já para os apressados, é melhor não emitir comentários, pois querem o sucesso do dia para a noite. Vindo de uma turnê satisfatória na Europa e fruta dessa jornada, eis que surge, em São Leopoldo (RS), o In Torment, promovendo “Sphere Of Metaphysical Incarnations”, terceiro disco da carreira.

Um desfile de Death Metal intenso, bruto e destrutivo. Esses são os três adjetivos que resume a desenvoltura extrema e arruínam-te desses gaúchos, integrado por Alex Zuchi (vocal), Alexandre Graessler e Rafael Giovanoli (guitarra), Bruno Fogaça (baixo) e Dionatan Britto (bateria), denotando e difundindo riffs de guitarra cadenciados (introduzindo precisão e geniosidade), vocais frenéticos (guturais incandescentes) e uma cozinha rítmica obscena e belicosa (peso na sua devida medida), insinuando contornos bem sutis de pura melodia e técnica bastante apurada nas partes instrumentais deste quinteto, o que dá uma dimensão e realce especiais, acrescentando também toadas opressivas e requintadas. 



A produção não poderia ser de ninguém menos que do conceituado produtor Sebastian Carsin, tudo feito e gravado dentro do Hurricane Studio, escoltado pelo ótimo trabalho de mixagem e masterização de Zack Ohren, deixando a qualidade sonora com total clareza e compreensão no momento da audição do disco, conseguindo sintetizar todo peso e melodia nota a nota. Além de ótimos músicos profissionais, Rafael Giovanoli, que fez um representativo trabalho nas guitarras, foi o responsável por gerar uma bela arte gráfica, mostrando o contexto humano e filosófico nas letras.

O som do In Torment é calcado nas grandes bandas do gênero, remetendo ao Morbid Angel e Suffocation como exemplos principais, mas que, ao mesmo tempo, sempre impõem inovação em arranjos harmoniosos, cheios de feeling através de energia e empolgação esmeraldina, tornando o registro diferenciado e uma das pérolas mais preciosas do Metal extremo nacional, se comparado a outros trabalhos do gênero. 

“The Unnatural Conception” da o ponta pé no CD de forma avassaladora e bruta, expressando fúria através de riffs azedos e ríspidos, imprimindo nuances rítmicas bem interessantes e colocando técnica no meio de tanto peso; “Divine Universal Awareness” apresenta  levadas, abrasivas, caracterizado por timbres agonizantes, destacando novamente a versatilidade técnica do grupo, principalmente vindo da bateria (com um ótimo trabalho de dois bumbos) e do baixo (enfocando acordes marcantes); vigorosa e atrativa, “Into Abyssal Landscapes” entrelaça momentos de puro alto astral à mudanças de tempo e de ritmo, predominando inteligência e facilidade em encontrar soluções criativas, sem perder o quesito principal da banda, que é o peso e a sabedoria técnica.



“The Threshold (Transcending The Matter)” enfatiza efeitos melodiosos em determinadas partes, que é nitidamente notável nos solos de guitarra, penteado por timbres cadenciados e precisos, conjugando, claro, brutalidade na sua devida medida; com menos densidade, só que mais arrastada, a faixa título nos proporciona mais uma vez ponteados arranjos melódicos, ousados e experimental, de maneira bem moderada, sobressaídos por belos riffs de guitarra e solos exterminantes; absurdas viradas de bateria dão inicio para a agressiva “Far Beyond Mortality”, saqueando harmonias cadenciadas através de vocais guturais bem postados sem perder o fôlego; estigmas melodiosos imperam novamente em “Mechanisms Of Domination”, epilogando texturas ácidas e vibrantes nos riffs de guitarra, contando com a participação de Renato Osório, do Hibria, nos solos; o castigo grosseiro é aplicado em “The Extinction Process”, imprimindo manifestações ardentes nos vocais e na parte rítmica; clima tristonho e objetiva, “Beholding The Everlasting” fecha o disco, brutal, chegando a ser épica e ao mesmo tempo sombria

Como já falei inúmeras vezes, esta pessoa que vos escreve não é um aficcionado em Death Metal, mas o In Torment me impressionou com sua genialidade passada em sua música. Sem dúvida, um dos melhores discos de Metal extremo de 2014.



Texto: Gabriel Arruda

Edição/Revisão: Carlos Garcia/Renato Sanson

Fotos: Divulgação



Ficha Técnica

Banda: In Torment

Álbum: Sphere Of Metaphysical Incarnations

Ano: 2014

Estilo: Death Metal

Gravadora: Eternal Hatred Records/Rapture Records

Assessoria: Ms Metal Agency



Formação

Alex Zuchi (vocal)

Alexandre Graessler (guitarra)

Rafael Giovanoli (guitarra)

Bruno Fogaça (baixo)

Dionatan Britto (bateria)



Track-List

01. The Unnatural Conception

02. Divine Universal Awareness

03. Into Abyssal Landscapes

04. The Threshold (Transcending The Matter)

05. Sphere Of Metaphysical Incarnations

06. Far Beyond Mortality

07. Mechanisms Of Domination

08. The Extinction Process

09. Beholding The Everlasting





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