quinta-feira, 6 de julho de 2017

Entrevista – Sepultura: 33 Anos e Em Grande Fase



Vivendo um grande momento e completando 33 anos de atividade, o Sepultura, enfim, lançou o tão aguardado documentário “Sepultura Endurance”, onde nós, do Road To Metal, tivemos a honra de conferir, em primeira mão, detalhes deste importante registro exclusivamente para os jornalistas no dia 30/05. Anterior a isso, a banda lançou “Machine Messiah”, que ainda vem obtendo criticas positivas.  (English Version)

Depois que foi encerrada a coletiva de imprensa, tivemos a oportunidade de conversar com a banda, onde o guitarrista Andreas Kisser tomou a frente, e, entre outras coisas, nos contou sobre a repercussão do novo trabalho e da alegria ao ver a história do Sepultura ser exibida em salas de cinema.


RtM: O Sepultura vem vivendo uma fase gratificante na carreira, culminada por um disco novo e pelo lançamento do tão esperando documentário, mostrando a banda na estrada nos últimos anos e retratando o que passou durante esses 30 anos. Encarar isso é como estivessem voltando no tempo, só que ainda melhor?
AK: Com certeza! Quando a gente vai relembrar o passado, mexendo nas fotos, montes de arquivos e acaba encontrando coisas que nem lembrava. Isso aconteceu durante o documentário, que celebra os 30 anos da banda,  uma marca importante. Fizemos uma turnê especial, lançamos o single “Under My Skin”, celebrando essa marca, e viajamos o mundo tocando muita coisa antiga. E isso preparou a gente pra fazer o “Machine Messiah”. Enquanto isso, paralelamente, o projeto do filme estava rolando, não tinha planos e nem uma data especifica pra sair. De repente, o Otávio chegou num ponto e falou: ‘Estou com o filme bem direcionado e pronto’. Faltavam algumas coisinhas aqui e ali, tanto é que, no Lollapaloza, e foi colocada a entrevista com o Lars Ulrich. Foi a ultima entrevista e a última coisa que foi adicionada no material.

RtM: A partir daí, vocês entenderam que o material para o filme estava realmente pronto? E o legal é que coincidiu com o lançamento do álbum , completando essas comemorações de 30 anos.
AK: O Otávio sentiu que o filme estava completo, a O2 Play entrou pra fazer os planos de distribuição, fizemos a pré-estreia em Los Angeles e as coisas começaram a acontecer. Então o lance dos 30 anos de carreira, do novo disco e do filme, na verdade, não foi planejada essa correlação. Lógico que o Otávio estava acompanhando todo esse processo: mudanças de bateristas, gravadoras... Enfim, acompanhando tudo isso! 

Então culminou com essa coincidência! O “Machine Messiah” saiu, foi muito bem recebido pela critica em geral e pelos fãs; fizemos duas turnês: uma pela Europa e outra pela América do Norte. Agora vamos voltar pra Europa pra fazer alguns festivais, Rock In Rio e enfim... E o filme saiu num momento oportuno, um pouco depois do lançamento do álbum, porque se saísse junto ia conflitar. E está saindo na hora certa! Dia 14 de junho é o dia Sepultura, onde a galera poderá assistir o filme. Além do filme, conferir as duas músicas mixadas em 4K, do show de 30 anos em São Paulo. 


 "É meio inacreditável colocar isso em salas de cinema, pois eu via filmes do AC/DC e Led Zeppelin nos cinemas."
RtM: Qual o sentimento de viver esse momento e ver esse filme pronto?
AK: É meio inacreditável colocar isso em salas de cinema, pois eu via filmes do AC/DC e Led Zeppelin nos cinemas. E ter essa possibilidade de colocar um filme do Sepultura no cinema, principalmente pra essa geração que nunca viu a banda, é mais uma linguagem que a gente pode chegar a pessoas que nunca iriam nos ouvir, mas que se interessam pelo formato do documentário, pela história e, quem sabe, se interessar pela música e da carreira do Sepultura.

RtM: E “Machine Messiah” vem crescendo, com várias criticas positivas, encarado por muitos como um potencial novo clássico. Você acha também que o sucesso dele se deve a expectativa, e ao que os fãs esperavam de um álbum da banda?
AK: O que o fã espera, com todo respeito, não importa! Se a gente for pensar em todo mundo, não vamos sair do lugar, porque são tantas opiniões e expectativas. E a gente foca entre a gente! O que a gente definir, vamos estar juntos! E é isso que é por bem ou por mal, tanto é que a gente arriscou. A gente sempre arrisca desde o “Chaos A.D”, “Roots”, “Tambours DuBronx”, “Machine Messiah”... Colocamos uns violinos e alguns negócios, mas a gente faz com dedicação e naturalidade, porque ficar fazendo o mesmo é muito chato também. Então a gente tenta trazer todas essas influências que vai assimilando nessas viagens pelo mundo: 76 países, 33 anos, todo ano um lugar diferente... Pode até visitar o mesmo país, mas está tocando numa cidade diferente. E tudo isso traz influência! Então eu não sei... 

RtM: Outra coisa que gostaria de comentar, é que percebi que desde o “Kairos” (2011), vocês vêm colocando mais a energia da banda ao vivo dentro do estúdio, com riffs pesados e adicionando coisas novas e até inusitadas, não deixando a identidade do Sepultura de lado também.
AK: Acho que não é desde o “Kairos”. No “Kairos” conseguimos, com o Roy-Z, transcrever essa coisa do ao vivo pro estúdio, mas a gente sempre teve essa preocupação de ter essa coisa mais orgânica, não depender muito do computador e das edições, mas realmente tocar. E o “Machine Messiah” é isso, ela tem essa coisa da performance mesmo. Acho que nem teve edição da batera, foi uma ou duas coisas que deixou a coisa fluir realmente. Muitas partes sem ‘click’, coisas que são mais da gente mesmo, procurando aquele pulso. E é isso que acontece ao vivo, pois ao vivo é sempre uma surpresa, e isso que é interessante.



RtM: Já de começo, o álbum apresenta novidades, sendo que a faixa-título (abertura do álbum), é marcada por melodias limpas e atmosféricas, algo que não é comum nos discos da banda. E faixa após faixa, percebemos nuances diferentes, indo de elementos de música brasileira e até mesmo orquestrações. A ousadia foi algo determinante pra tornar “Machine Messiah” um disco importante?
AK: Sem dúvida! Abrir o disco com uma música como “Machine Messiah” foi realmente uma coisa nova, apesar que, desde que o Derrick entrou na banda, ele usa melodia na voz. Se você lembrar direito, no disco “Against”, temos a “Common Bonds”, que é uma música que tem bastante melodia. No “Nation” temos a “One Man Army”, “The Ways Of Faith”, “Water”... “Grief”, do “The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart”. Tem um monte de coisa que o Derrick experimentou com a voz dele, mas nunca abrimos um disco com uma música melódica como essa. E a intenção foi fazer uma intro como uma abertura de uma ópera, uma ‘overture’, onde você vai criar uma expectativa do que vem depois disso. 

RtM: Acredito que vocês conseguiram realizar esse intento.
AK: Eu acho que a gente conseguiu criar essa expectativa, porque a galera escuta essa música e fala: “Caralho... O que vem depois?’ E essa era a intenção, realmente, de criar essa expectativa, porque é um álbum que você tem que escutar do começo ao fim. E depois que você escuta o disco inteiro, você volta pra “Machine Messiah” e sente o sentido da música dentro do contexto do disco.

RtM: Além das inovações, é importante destacar a sua versatilidade Derrick, há 20 anos na banda já, e com os  vocais limpos que você adicionou em várias partes do álbum, algo que foi muito observado pelos fãs e críticos, cairam super bem nas músicas que exigem esse lado. 
Derrick: Desde quando eu entrei na banda, os caras sempre queriam fazer coisas diferentes. Quando tem músicas com vibe e agressividade, é legal experimentar com voz suave e diferente. Comigo é sempre importante usar minha voz, dependendo em qual estilo de música. Sempre gostei de experimentar voz mais limpa, mas depende da música e da vibe. E com certeza é sempre interessante.



"Não tem como suprir as expectativas de todo mundo. Eu gosto de falar que o fã de Sepultura espera o inesperado."
RtM: Cada música possui sua personalidade, como “Phantom Self” e “Iceberg Dances”, que nos colocam em experiência novas. Mas “Silent Violence” e “Vandals Nest” são músicas do tipo que os fãs mais esperam, sendo ótimas pra executar ao vivo. Seguir direções diferentes, mas também sem esquecer elementos tradicionais é um dos fatores importantes para que o fã não perca o interesse?
AK: Como eu disse a gente não pensa no que o fã está pensando, com todo respeito. Não é uma coisa de negligenciar, mas é uma coisa que não tem como suprir as expectativas de todo mundo. Eu gosto de falar que o fã de Sepultura espera o inesperado da gente, porque nem mesmo sabemos o que vamos fazer no próximo, por exemplo. Estamos muito focados no que a gente está fazendo agora, vai coletar mais informações e tudo... E a gente sempre tem criticas, nunca é uma unanimidade e nem espero que seja, porque a critica tanto positiva quanto negativa é sempre muito bem vinda. E é isso que faz a gente mudar e crescer.

RtM: A sonoridade é outro fator a ser citado, pois quem cuidou da parte de produção foi o nada menos que o sueco Jens Bogren, que também trabalhou no ultimo disco do Kreator, possuindo um currículo impecável, retribuindo as suas ideias em bandas como Soilwork, Paradise Lost, Opeth, ArchEnemy e, até mesmo, o Angra. O papel dele no disco foi determinante, reforçando ainda mais o que estava preparado por vocês antes de entrar em estúdio?
AK: Perfeito! Sem dúvida nenhuma! A gente preparou uma demo e fomos pra Suécia, Estocolmo, e lá a gente começou a preparar as ideias junto com o Jens antes de gravar cada música de bateria. Foi ele que sugeriu os violinos, da orquestra da Tunísia, que abriu novas possibilidades, principalmente pra solos de guitarra, com aquelas conversas entre os violinos. O Jens é um produtor muito técnico!

Ele mixou e masterizou tudo! Eu acho que a gente teve uma escolha muito feliz de ter ido pra Suécia e ter trabalhado com ele. E abre novas oportunidades do futuro. Quem sabe a gente não continue esse processo... Mas como eu disse, estamos muito focados no que a gente fez e muito satisfeitos com o resultado de tudo. E é um disco que é legal de escutar, porque o Jens realmente conseguiu colocar guitarra, baixo e todos os instrumentos de uma forma fantástica!

O contexto por trás do álbum é sobre a evolução da tecnologia e de quão ela é significativa nos dias de hoje, mas que nos dá um sinal de alerta também, pois ela pode virar uma arma nas mãos de alguns, e de que também não podemos depender de tudo através dela. Trabalhar num contexto, avistado no cotidiano e na vivencia da humanidade, foi fácil?
AK: Foi fácil, porque a gente é humano, falando da humanidade... (risos) A gente teve essa possibilidade e privilegio de viajar ao mundo. Ao mesmo tempo que a gente toca num país como a Armênia ou Cuba, que não tem muita tecnologia, e vai num Estados Unidos, Alemanha ou Japão, você vê a diferença da influência tecnológica. Mas acho que o “Machine Messiah” quer mostrar ou discutir um certo ponto de equilíbrio, não ficar tão máquina e perder essa sensibilidade humana de conversar, trocar uma ideia, usar o cérebro e de desenvolver o intelecto. Não que a gente seja contra os robôs, mas que seja uma coisa de equilíbrio e disciplina.



RtM: Posterior a tudo isso, o inicio da turnê de divulgação do disco, que começou pela Europa ao lado Kreator, que também lançou disco novo no mesmo mês. E a maioria dos shows foram ‘sold-out’, ou seja, os fãs realmente seguem abraçando a banda. A tour seguiu também para os Estados Unidos, onde vocês tocaram ao lado do Testament. Conte pra gente um pouco de como foram esses shows.
AK: As turnês foram fantásticas, tocamos muitas músicas novas! Num set de uma hora, tocamos cinco músicas novas, que é uma coisa que a gente não fazia desde o “Chaos A.D” praticamente. E é muito bom que a galera tem respondido, escutado o disco e conhece as músicas. Foram duas turnês muito importantes pra gente, porque tocamos para um público ‘old-school’, pois muita gente da ‘old-school’, por causa de muitas coisas que houveram, meio que tinha esquecido do Sepultura. Então foi interessante tocar pra essa galera, tanto com o Kreator, na Europa, e com o Testament nos Estados Unidos. E foi tudo muito positivo! Voltamos muito motivados e prontos pra seguir! A gente volta pra Europa no verão Europeu.

Entrevista: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia


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